quarta-feira, 28 de março de 2007

Obras

Porque a secção informática aqui da estação de Correios vai estar em reapetrechamento, não vou poder distribuir as minhas cartas durante uns dias.
Voltarei logo que possível. Beijinhos à prima.

Entre a dúvida e a suspeita

O circunspecto " Expresso", na sua edição da Net, apresenta hoje um título que mais parece uma maliciosa provocação. Diz assim "Eunice Muñoz coloca Diogo Infante sob suspeita".

A notícia refere-se à estreia da peça intitulada "Dúvida", da autoria de John Patrick Shanley, na qual Diogo Infante interpreta o papel de um padre suspeito de pedofilia.

Não acredito que o "Expresso" tenha querido meter-se com o actor que, há não muito tempo, foi vítima de insinuações pouco agradáveis acerca da sua ligação a uma outra figura pública.

Recordando ao "Expresso" o título da emissão que Diogo Infante apresenta na RTP, é caso para dizer "Cuidado com a Língua"...

O nojo e os SAPs

Por muito optimismo que queiramos mostrar, a verdade é que este é um dia de grandes inquietações.
O CDS-PP está em acelerada decomposição, sendo o mais recente tiro no porta-avionetas a saída (esperada) de Maria José Nogueira Pinto que já nem vai ao Congresso Nacional.
Por este andar, Paulo Portas vai ser presidente de um partido fantasma…

É com pungente emoção que ouvimos o grito de revolta, o nojo (foi o termo) sentido pelo filho de Catarina Eufémia perante a vitória de Salazar. Como se aquilo tivesse alguma importância.
Que descanse o filho de Eufémia, vitória é um eufemismo…

Como se não bastasse a expectativa normal que todo um povo sente antes de mais um embate histórico dos nossos heróis da bola, desta vez temos angústia para o jantar (19.30, hora de Lisboa) altura em que (uff, enfim) saberemos se o Cristiano Ronaldo sobe ao relvado. Sim, porque ele é imprescindível, uma vez que agarra na bola, dribla, finta, simula, rodopia, virevolta, volteja e, por fim, serve-a de bandeja ao Nuno Gomes…

Em alta tensão está o Reino (muito) Unido à volta de Tony Blair que, com 15 marujos feitos prisioneiros, anuncia uma “nova fase”. Pergunta-se (e bem, a meu fraco ver): que IRÃO os ingleses fazer?

Sem fim à vista está o imbróglio da Universidade Independente onde, entre mil suspeitas de negócios ilícitos, cresce a incerteza sobre a credibilidade dos graus académicos concedidos pela instituição.
Ao ponto de haver quem compare aquela universidade às feiras manhosas onde meninas berrantemente pintadas perguntavam aos passantes “Ó simpático, vai um tirinho?”.
Na Independente seria o vice-reitor a inquirir “Ó senhor, vai um canudo? Prefere Doutoramento ou Mestrado?”

Tudo isto nos deixa, compreensivelmente, com os nervos em franja de galinha, neste país que se debate com encerramentos vários e os avanços do mar.
Um país que começa a estar farto de engolir SAPs…

terça-feira, 27 de março de 2007

A trivial leveza da bola

Os criativos jornalistas que correm atrás do prejuízo e fazem sinaléticas, descobriram recentemente um termo que o meu velho dicionário desconhece, trivela. Sovela, manivela, de acordo, mas trivela
O interessante da coisa é estarmos perante uma palavra nova (julgo eu) para designar algo que tem, no mínimo, 45 anos.
Só a ignorância e/ou a sede de inventar vocábulos garridos pode explicar esta febre à volta daquilo que, prosaicamente, sempre se chamou “chutar com a parte de fora do pé”.

Lembro-me da forma superior e fácil como Rui Rodrigues, Gervásio, Vítor Campos ou Pedro (CUF), por exemplo, faziam passes e centros, na passada, com o exterior do pé, em geral, o direito.
Mas o sumo-sacerdote dessa arte foi o kaiser Franz Beckenbauer, o príncipe dos líberos.

Causa certa estranheza ver como os nossos jornalistas feitos à pressa se esforçam por atribuir a Quaresma a paternidade de uma prática que já existia muito antes de ele nascer.
Não tem culpa o jogador, como é evidente, já que se limita a fazer (e bem) um gesto que é hoje ainda mais fácil, dada a leveza das bolas.
Noutro tempo, de longe, ninguém rematava dessa forma porque as bolas, sendo mais pesadas, chegavam à baliza sem força. Hoje basta o jeito.
Imaginem o que seria o Eusébio com estas bolas leves!

Enfim, é apenas uma curiosidade, não é trivela, é trivial…

segunda-feira, 26 de março de 2007

O pior cego

O director do RAIO DE LUZ, na mais recente edição do mensário, dedica metade do seu editorial à inveja. Claro que não evitou um erro ortográfico de palmatória, pois escreveu “propícia” quando queria escrever “propicia”. Porém, a coisa não é muito grave, pois há por aí gente mais letrada - e com outras responsabilidades - que consegue confundir “perpétua” com “perpetua”, e a verdade é que “propícia” rima com… Bom, vocês sabem, mas vamos ao que interessa.

No auge da erudição, o plumitivo chega mesmo a citar o Catecismo da Igreja Católica e a autoridade de Santo Agostinho em abono da sua cruzada, que tem por alvo todos – e são “muitos” – “os que mergulham neste abismo porque não desejam o bem dos outros”. É tudo gente réproba: “São raivosos, cinzentos e medíocres os que se acobardam e só funcionam na sombra ou nos bastidores, para não referir outros exemplos negativos próprios de filhos das trevas”. Para nossa edificação, ficamos, por fim, a saber que “dignidade, trabalho e transparência devem ser sempre, a melhor reposta aos invejosos”.

Confesso ao leitor que não me deixo intimidar com a autoridade de Santo Agostinho, mas consigo compreender que o Bispo de Hipona, terror dos heréticos, diga alguma coisa ao director do RAIO DE LUZ. Acontece, aliás, que também tenho cá as minhas ideias sobre a inveja e aproveito para lembrar que o grande Goethe a definiu como o mal radical. Sucede que Goethe, para glória da sua Ordem e da Humanidade, era maçon, e maçons, já o sabemos há muito, são gente que o director do RAIO DE LUZ não quer ver à frente nem pintada.

Quem prestar atenção à etimologia da palavra inveja: inveja, percebe logo que quem a tem não pode ver, não é capaz de ver. Neste momento, confesso a minha culpa: eu nunca fui capaz de ver a acção cultural desenvolvida pelo Centro Raio de Luz nos últimos 30 anos; nem fui capaz de ver a creche da instituição dada como existente, nos últimos meses, no site da Segurança Social. Agora mesmo, já não sou capaz de a encontrar nesse mesmo site, porque já lá não consta. Foi retirada. Terá fechado as suas portas? Que vai ser das crianças?

Eu não fui capaz de ver. Eu não sou capaz de ver. Mas não é má vontade minha. É apenas a natureza das coisas, que simplesmente não existem. A nova sede do Centro Cultural Raio de Luz já absorveu dezenas de milhares de contos dos contribuintes, mas a associação, em três décadas de existência, não deu sequer sinais de vida, quanto mais provas de mérito. Não é mais do que uma pura incógnita, um ponto de interrogação desenhado num cheque em branco. O problema é que o cheque é chorudo e, nisto, como em tudo na vida, o pior cego não é aquele que não pode, mas aquele que não quer ver.

Cadê as imagens?

Certamente seguro das suas razões, o senhor deputado Hélder Amaral apresentou hoje, no DIAP, uma queixa-crime por difamação contra a senhora deputada Maria José Nogueira Pinto.
Ambos viajam no mesmo táxi onde cabe todo o CDS-PP menos o capachinho do Paulinho.

Resta à senhora doutora mostrar as imagens que testemunham a (tentativa de ou mesmo) agressão.

Pode, depois, é o deputado Amaral fazer como o nosso Valentim e clamar que a gravação é ilegal.

Seja como for, mesmo que se trate de fogo-de-vistas ou de fuga para a frente, registe-se o gesto do homem que, pelos vistos, quer pôr preto na branca...

Mesquinhez

Muito embora isso pouca importância tenha, devo dizer que não sou admirador de Soares nem votei nele.
Contudo, acho que foi de muito mau gosto o facto de Cavaco Silva não ter convidado o ex- Presidente da República e ex-Primeiro-Ministro para a cerimónia de comemoração dos 50 anos da União Europeia.

Esta aparente birra de Cavaco não é digna de um Chefe de Estado que não deve mostrar ressentimentos pessoais no exercício das suas funções.
Desta forma, Cavaco perdeu uma magnífica oportunidade de dar uma bofetada de luva branca com a mesma mão que Soares se recusou a apertar, em S. Bento.

É em circunstâncias como esta que os Homens mostram (ou não) a sua grandeza.
Cavaco tem sido muito bem aconselhado, desde a campanha eleitoral que lhe deu a vitória, mas agora foi, no mínimo, desajeitado, se não mesquinho.

Fez lembrar o Cavaco que, há anos, em tempo de tabu, desconsiderou lamentavelmente o digno Fernando Nogueira, com uma atitude que este poderá provavelmente perdoar mas dificilmente esquecer.

Classe e grandeza não saem na Farinha Amparo...

Dois enganos

Esta iniciativa da RTP destinada a eleger o maior de entre os Grandes Portugueses deve ser vista apenas como aquilo que é, um espectáculo televisivo disfarçado de consulta popular, referendo ou plebiscito.

Contudo, aconteceu, desenrolou-se sob os nossos olhos e podemos observar o fenómeno de várias maneiras.

Foram vagos e subjectivos os critérios desenhados para justificar a escolha, pelo que podemos indicar mais um que bem poderia ser o da intenção, ou seja, aquilo que teria em mente cada uma das figuras em apreciação.

Por outras palavras, o critério determinante bem poderia ser a intenção de cada um ao fazer o que fez apenas ou essencialmente por e para Portugal.

Salazar foi, indiscutivelmente, um ditador, um tirano, autor moral de torturas, crimes e perseguições, inimigo da democracia e da liberdade de pensamento.

Consta que era um solitário, dizem-no desligado de facções ou partidos, seria austero e devoto.

Mas viveu enclausurado em Portugal, cortado do resto do Mundo, teimosamente só. Portugal foi o seu mundo e podemos (remotamente) admitir que ele tivesse pensado e feito tudo quanto fez por achar que era o melhor para um Portugal que queria uno e independente, sob a protecção da Pide e da Santa Madre Igreja.

Isso não desculpa os seus crimes, mas pode suavizar-lhe os contornos, como o pai que quer o melhor para os seus filhos, apesar de os castigar duramente.

Cunhal foi, sem a menor sombra de dúvida, uma personagem fascinante, um homem absolutamente notável, de invulgar craveira intelectual, um artista admirável e um exemplo de coragem e de coerência nas suas convicções.

Foi um grande homem que, ao contrário de Salazar, viveu muitos anos no estrangeiro, conhecia o Mundo. Mas não foi um Grande Português. Porque não queria o melhor para Portugal. A luta de Cunhal não foi por Portugal, foi contra um regime político, foi contra Salazar. Cunhal não queria um Portugal livre, mas sim transformar o nosso país em mais um satélite da União Soviética, numa outra Albânia.

E só não o conseguiu porque encontrou pela frente alguém que pode não ter sido quase lendário, quase herói romântico, como Cunhal, mas que foi, certamente, um Grande Português.

Chama-se ele Mário Soares…

O aborto. Agora, sim...

Todos sabemos que a iniciativa de eleger o maior de entre os Grandes Portugueses foi apenas um espectáculo televisivo de braço dado com um hipotético referendo, uma suposta consulta popular ou uma imitação de plebiscito.
Se as sondagens valem o que valem, "aquilo" vale ainda menos.

Contudo, aconteceu, desenrolou-se diante dos nossos olhos, e podemos observar o fenómeno sob vários ângulos.

Um deles é o que põe em evidência uma flagrante clivagem Esquerda/Direita que (quer se queira ou não) estava já subjacente à escolha que os grandes, médios e pequenos portugueses fizeram sobre a interrupção voluntária da gravidez.

Nessa altura ganhou a Esquerda, digamos assim. Mas ganhou, sobretudo a Mulher que viu ser-lhe reconhecida a Liberdade de decidir.

Desta vez, e pelos mesmos vinte pontos de diferença, ganhou a Direita

Ou melhor, ganhou o Aborto...

domingo, 25 de março de 2007

Sem bandeiras nem tambor

Os nossos admiráveis jornais diários desportivos (e não só) enchem páginas de elogios aos super-heróis do futebol que cometeram a histórica proeza de bater uma paupérrima equipa belga.

Porém, e ao mesmo tempo, quase ignoram o feito extraordinário da selecção de rugby que foi a Montevideu arrancar a ferros a primeira qualificação de Portugal para um Mundial da modalidade.

É uma equipa de AMADORES, de verdadeiros leões que berraram de orgulho o hino nacional, deram corpo e alma em campo e cometeram, eles sim, uma memorável proeza.

Aí, valentes! Mas, por eles, ninguém põe bandeiras à janela...

A cadeira

Eu não sou grande apreciador da arrogância do homem, mas devo reconhecer que José Sócrates Pinto de Sousa tem feito muita coisa. Boa, menos boa, mas obra, acção.
É um fa(c)to que lhe assenta como uma luva...

Agora anda para aí uma onda de suspeitas sobre a legitimidade do curso que o nosso Primeiro tirou, comprou ou foi buscar à Universidade Independente.

Não sei nem me interessa por aí além se ele fez todos os anos ou todas as cadeiras.
E não é isso que está em causa neste momento.
Se ele andasse a contruir pontes ou fosse designado para erguer uma torre de trezentos andares, aí sim, impunha-se tirar a limpo a história do canudo do homem.

Porém, a única obra cuja responsabilidade José Sócrates tem sobre os ombros (e não é pequena) é endireitar este país. É desse trabalho que podemos e devemos pedir-lhe contas, não da forma como obteve o título de engenheiro.

É bom recordar que há por aí muito senhor doutor que, a seguir ao 25 de Abril, acabou o curso com bom número de cadeiras feitas na secretaria e por atacado.

Deixem o Sócrates trabalhar e não chateiem o homem por causa de uma ou outra cadeira.
Tanto mais que todos nós sabemos que, em Portugal, a única cadeira que fica para a História é aquela abençoada da qual Salazar caiu...

A receita

A quantidade de humor que anda por aí à solta leva-nos a imaginar que haja alguma fórmula mágica para produzir ditos espirituosos.
Mas logo chegamos à conclusão de que não há uma mas inúmeras receitas para fazer humor, umas melhores, outras piores e algumas nem por isso, antes pelo contrário.
O que nos coloca perante a outra dilacerante inquietação que envolve a origem das piadas. Quem é que inventa as anedotas? Ora aí está uma boa pergunta...

A parte interessante da questão reside no facto de cada um de nós ter direito e garantia de conceber uma gracinha.
No fundo, é fácil gracejar porque há público para todo o tipo de laracha, por mais boçal que seja.

Quem as diz ou escreve pode divertir-se à brava, no seu canto, rebentar os cós das calças a rir, enquanto o colega de escritório ou o leitor exigente se limitam a fungar e a virar as costas.
É esse o risco que corre o autor de tiradas bem (ou mal) tiradas.

Querem ver como é fácil? Olhem. Escolhe-se um figurão que esteja na berra. Por exemplo, Pinto da Costa.
Percorre-se o seu vasto currículo e escolhe-se um episódio recente. Esse mesmo, o livro da Carolina.
Agita-se bem e serve-se com meiguice a malandrice que consiste em contar que o Pintinho mudou de regime alimentar.

Resultado, desde que deixou de comer salgado, o seu problema é bexiga...

Estão a ver? Os que gostaram levantem o braço.
Os outros aproveitem para aliviar a bílis dizendo "este gajo é mesmo parvo, julga que tem piada".
É claro que, se a tanto se atreverem e mandarem um comentário nesses termos, eu não publico.

Não queriam mais nada, não? Olha que graça!

sexta-feira, 23 de março de 2007

O Óscar da Esfregona

No seu mais recente número, a "Sesimbra Município" anuncia, na capa e com grande destaque, a inauguração do novo Cineteatro.

Como tem sido largamente comentado, o programa de abertura inclui a presença de grandes nomes da música portuguesa, gente que vai (provavelmente) receber choruda retribuição pela sua actuação.
Autarquia rica é assim, toca a gastar e a música a tocar, como a orquestra do Titanic...

Mas a nota mais curiosa, neste clima de exaltação, reside na fotografia da capa da publicação.
Estranhamente, em vez de nos mostrarem imagens que simbolizem ou evoquem a magia, a fascinação, a grandiosidade, o arrebatamento do Cinema e/ou do Teatro, o que vemos é uma cena de velho filme realista, com uma sala vazia a ser limpa por uma funcionária que exibe a esfregona e uma pá, ficando o balde no papel de melancólica testemunha.

Em vez de sonho, evasão e deslumbramento, os finos criativos optaram pelo trivial, pelo hino à limpeza, pela mensagem subliminar, talvez, a lembrar preocupações ambientais tão na moda.

Julia Roberts? Nicole Kidman? Jude Law? Matrix? Babel? Banalidade, ninharias, futilidade.
Esta é uma Câmara asseada, representada por gente trabalhadora que não cede à facilidade demoníaca dos valores imperialistas.

Cinema, sim, Teatro, talvez. Mas, antes disso, sala bem limpa e vergonha na cara.
Por isso, o primeiro ciclo não é Bergman nem Scorcese nem De Niro.
O que se pretendeu foi prestar homenagem à classe operária.

Viva a pá, honra à esfregona! E que o nosso esforço não seja de balde...

Será?

Dois jogadores do Bayern, Kahn e Lúcio, foram punidos pela UEFA por comportamento incorrecto aquando do controlo anti-doping.
Aconteceu após o jogo com o Real Madrid, na Liga dos Campeões.

Ambos foram multados e Kahn suspenso por um jogo. Ao que consta, demoraram demasiado tempo a comparecer e não urinaram na presença do médico.

Este episódio vem confirmar que, afinal, o controlo anti-doping existe.

E há quem acredite que é feito com seriedade. Até ao dia em que surja uma "Urina Dourada"...

quinta-feira, 22 de março de 2007

E o Tintin a rir-se

Há uns quarenta anos, um treinador chamado Joaquim Meirim encheu páginas de vários jornais desportivos (não diários) com as suas aparentes fanfarronadas. Certa vez, disse para quem o quis ler, que a CUF ganharia ao Benfica quer Eusébio jogasse ou não.
Os ânimos aqueceram durante dois dias. Eusébio não jogou e a CUF ganhou, por 2-0.
No ano seguinte, Eusébio jogou e a CUF ganhou. Por 3 a zero.

As provocações são arma velha no futebol e só a palhaçada que gira à sua volta explica a histeria que por aí anda porque o guarda-redes da Bélgica ameaçou arrumar o nosso herói Ronaldo.

Chora Madail, apela para a UEFA, para a FIFA e para a Sociedade Protectora dos Ronaldinhos, os jornais enchem primeiras páginas, o tribunal de Haia está a postos, em Guantânamo já disponibilizaram uma cela para o tal Stijn Stijnen (nem tentem pronunciar), o GOE (recém-regressado do Iraque) já treina em Alvalade, para protecção do nosso Cristiano, velas já ardem em Fátima, a mana Ronalda compôs um requiem às tíbias e outro aos peróneos do craque, Alberto João ameaça anexar a metade flamenga da Bélgica, Durão Barroso sente-se inseguro em Bruxelas e de Felgueiras vem a caminho um carregamento de sacos azuis cheios de gelo para acalmar os ímpetos.

Tudo isto é simplesmente patético. E, se for o que pressinto, os belgas devem estar a rir que nem uns perdidos. Eles que são as vítimas dos franceses nas anedotas estúpidas, devem rebolar-se de gozo, com esta bicha de rabiar que atiraram para este pindérico quintal que é o Portugal da bola...

2007: ANO D'OTA

Se a ribeira dos Milagres ficasse perto da Ota, o problemas das descargas poluentes já estaria resolvido. Em nome do Ambiente, ou acabavam as descargas ou acabavam as suiniculturas.
Ou acabava a ribeira.

O certo é que este assunto da Ota já começa a cheirar tão mal como a ribeira e será um milagre se houver decisão em breve.

Há largos anos que os estudos se multiplicam, os governos se sucedem, os interesses se cruzam e o projecto marca passo. É como o caso Camarate, má sina das questões ligadas à aeronáutica.

Habitualmente decidido e despachado, Sócrates parece estar a enterrar-se no pântano que ocupa boa parte dos terrenos da Ota, pensando talvez no outro pântano que levou o amigo Guterres a levantar voo prematuramente.

Esperemos que haja em 2007 ordem para avançar com o projecto do novo aeroporto, já que, quanto ao resto, a receita está passada, aperta o cinto e cara alegre, a meta é 3,3, disse o Primeiro Ministro.

Bem podem as Centrais Sindicais espernear, em cada consulta, nos serviços de saúde que restarem, apenas se ouvirá :
"Diga 3,3. Vá lá, diga 3,3. Isso mesmo, 3,3"...

Até à Eternidade

A moderna publicidade vem trilhando, desde há algum tempo, o caminho da piada, da graçola que antecede o que é suposto ser assunto sério.

Por bem acha o BES sublinhar a leviandade da Euribor, imaginando talvez que o pagode é tão burro como o outro, ao ponto de acreditar que algum banco é nosso amigo, desinteressado e compreensivo.

Por seu lado, a Super Bock acredita que os monólogos labirínticos do Bruno Nogueira nos fazem sede, esquecendo-se que estamos a ficar fartos desta conversa enrolada e cansativa, imitação de imitação que apenas confirma que, de noite ou de dia, todos os gatos são (ou pretendem ser) fedorentos.

Hoje, fui surpreendido por um enorme cartaz da Calvin Klein que nos incita a comprar o perfume Eternity mostrando duas beldades femininas, uma deitada sobre a outra, em flagrante deleite de beijo iminente.

Se é isto o que a Eternidade nos oferece, compreendo melhor os bombistas suicidas.
Por mim, nem exigiria as setentas virgens que constam da ementa das recompensas dos mártires.

Mas tratando-se de perfume, confesso que não entendo bem o que é que a explícita imagem de duas mulheres enroladas terá a ver com esta ou outra Eternity.

Talvez tenha, eu é que devo ser mais burro do que o Zé Pedro, o afilhado da Euribor...

quarta-feira, 21 de março de 2007

Previsível

Por mais que tentem, os jornais dificilmente nos surpreendem.
Assim, e como era de esperar, a Primavera chegou, Chirac apoia Sarkosy, Paulo sucede a Belmiro de Azevedo, o mar destrói a Caparica, a Polícia continua na Universidade Independente, Cristiano Ronaldo é cobiçado pelo Real Madrid, Maria José Nogueira Pinto sai do CDS-PP, Portugal e Angola entendem-se sobre as cartas de condução, bébé volta a nascer em ambulância, protestos à vista e o pão-de-ló irá representar Portugal no jantar dos 27 países que celebram os 50 anos da União Europeia.

Como diz a nossa gente fina, tudo expectável...

Valentino

Valentim Loureiro vai ser entrevistado amanhã, na RTP1, e é sua intenção clarificar alguns pontos inscritos nas acusações do Ministério Público.

Um dos esclarecimentos que pretende fazer diz respeito a ofertas de ouro a árbitros, coisa que o major nega de forma veemente (não confundir com vê e mente), esforço aliás dispensável, uma vez que toda a gente sabe que Valentim costuma oferecer, isso sim, electrodomésticos.

Outro aspecto importante é o que se refere às suas relações pessoais e profissionais com Pinto de Sousa, o homem que nomeava os árbitros.

Acho bem, até para deixar bem claro que estes apelidos (Pinto de Sousa) nada têm a ver com outro Pinto de Sousa que, por curiosidade, é primeiro ministro e tem como nomes José e Sócrates.

Contudo, para além destas facécias, ocorre-me pôr em equação a posição da RTP que vai dar a palavra a um arguido mediático, oferecendo-lhe a oportunidade de fazer as alegações que entender, sem ou com fraco contraditório, perante milhões de curiosos que vão querer assistir às acrobacias do major.
A RTP vai permitir uma espécie de tiro ao boneco, com Valentim Loureiro a rematar e o Ministério Público como alvo. É a própria Justiça a entrar na casa do Big Brother pela mão de um canal que é suposto fazer serviço público. É, no mínimo, estranho.

Amanhã, poderá o senhor major dizer o que quiser.
O seu azar é que as conversas telefónicas estão gravadas e, no dia do verdadeiro julgamento, os juízes não serão nomeados pelo senhor Pinto de Sousa.

E por muito subserviente que a RTP seja, aquilo a que vamos assistir será apenas espectáculo, a meio caminho entre o Gato Fedorento e a verborreia do (Valen)Tino de Rãs...

Mãos ao ar

Um dos privilégios de escrever num blog é a liberdade de perorarmos sobre o que nos apetece, mesmo quando pouco ou nada sabemos do assunto.
É o que se passa em relação à vergonha que foi a reunião do Conselho Nacional do CDS-PP, em particular, o final da sessão.

Eu não estive lá, não vi, nada posso garantir, mas fica-me a tal liberdade de acreditar na palavra da Dra. Maria José Nogueira Pinto. Em tudo quanto disse, mesmo sobre a tentativa de agressão praticada por um tal senhor Hélder Amaral que, ontem, voltou à carga de forma deselegante e suspeita.

Não fica bem ao senhor deputado tratar a presidente do Conselho Nacional do seu partido por Dra. Maria José.
Na sua roda de amigos, é livre de o fazer, mas, diante das câmaras da televisão, bem poderia ter algum decoro.

Não sei se ele agrediu, se tentou agredir ou nada disso, mas, usando a experiência do futebol, só o posso julgar culpado. Eu explico.

Quando um jogador tem uma entrada mais dura sobre um contrário e levanta logo os braços, já sabemos que a falta foi intencional.
"Mãos ao ar", neste contexto, é confissão de culpa.

O senhor deputado Amaral (que é de raça negra) não levantou os braços, mas teve uma atitude equivalente, despropositada e velhaca, ao pretender atribuir às palavras da Dra. Nogueira Pinto contornos racistas.

Posso estar errado, mas acho que o homem foi infeliz e grotesco, ao tentar armar-se em vítima de um pretenso ataque racista.

Só lhe faltou apelar ao SOS Racismo ou à UEFA que já aplicou castigos a clubes por injúrias racistas dos seus adeptos.

Paulo Portas anda a fazer muito má figura neste processo de conquista acelerada do poder, e ajudantes destes só o podem enterrar ainda mais.

O melhor seria amordaçar o deputado Hélder e Amaral-o a uma cadeira. Por uns tempos...

segunda-feira, 19 de março de 2007

A urgência de Portas

Há uns bons vinte anos, alguns dos naturais da Nova Caledónia, a tribo dos "Kanaks", pegaram em armas e queriam a independência, embora a maioria preferisse (era público e notório) continuar a viver sob a bandeira francesa.

Os socialistas (na altura no poder em França) olharam o movimento com a sua proverbial e diletante simpatia e designavam os revoltosos (sequestros, pilhagens, etc.) por "independentistas" e rotulavam de "anti-independentistas" os outros que queriam continuar a ser franceses.

Poderiam ter chamado a estes últimos patriotas ou nacionalistas, não sei, mas acharam melhor marcá-los com o ferro de "anti", transformando-os nos maus da fita.

A certa altura, alguém se lembrou de propor ao chefe dos independentistas, Jean-Marie Djibaou (salvo erro), que se fizesse um referendo para se apurar se havia ou não uma maioria que desejava a independência.
A reacção do chefe Djibaou foi deliciosa :"Sim, senhor, concordo com o referendo, mas só se for para dizer sim à independência".

Não sei porquê mas este regresso bombástico e momentoso de Paulo Portas faz-me lembrar a tirada desempoeirada do chefe kanak.

Claro, Portas não foge ao confronto, mas pretende-o tão rápido que é como se o considerasse uma formalidade, não tendo tempo a perder com a maçada das regras democráticas do partido.

Terá o homem alguma costela kanak?

ALLENTEJANO?

O senhor ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciou, com um sorriso satisfeito e orgulhoso, a deliciosa descoberta do Algarve com mais um L, ou seja, ALLGARVE.

E fez isto sem rir, apenas sorrindo, o que já é proeza considerável.
Melhor ainda foi quando nos explicou que ALL (tudo ou todo, em inglês) permitiria uma melhor identificação daquele destino turístico por todos quantos falam a língua de James Bond.

Não me sinto qualificado para pôr em dúvida o alcance e a visão prospectiva do senhor ministro, mas tenho algumas reservas.

Espero que Carmona Rodrigues, ao reconhecer que a capital está pouco limpa, não lhe mude o nome para Lixoboa.

Mas, mais que tudo, temo que o imprevisível Alberto João resolva rachar ao meio a sua Madeira, para melhor identificação por parte dos mesmos ingleses.
Se o fizesse, teríamos MADE IRA, palavras que o mundo inteiro conhece, mas que poderiam criar atritos na enorme Bretanha.

Seria uma ideia made in Jardim, sim senhor, mas que poderia despertar a IRA de bom número de irlandeses.

Mas, já que estamos em maré de inovacionex, para outro tipo de turismo, poderíamos adoptar e adaptar a ideia do senhor ministro e promover as casas de ALLTERNE...

Aleluia

A Direcção Geral das Contribuições e Impostos descobriu agora que os empresários dos jogadores de futebol apenas declaram 10% do que realmente ganham.

Esta caricata descoberta faz lembrar a velha anedota do fulano que chega a casa e descobre a mulher na cama com outro. Zanga-se muito, diz que nunca esperou uma coisa daquelas e que, para a desgraça ser total, só faltava um dia apanhá-la a fumar em público.

Assim estão os nossos políticos e os responsáveis pelos órgãos de controlo dos nossos deveres e obrigações de cidadãos.

É estranho que, há tantos anos, ninguém tenha desconfiado dos negócios escondidos realizados por empresários, jogadores e dirigentes.
Em que planeta têm vivido os agentes do fisco?
E quem os superintende?
Alguém "intende" (ou acredita) que não soubessem?

Qualquer dia, para grande surpresa geral, vão descobrir que doping e vitórias são amigos de longa data...

domingo, 18 de março de 2007

A menina dança?

Li, não sei onde, que existe agora em Sesimbra uma coisa chamada dançoteca.
Confesso que tenho certa dificuldade em perceber a febrilidade desta gente nova que pretende reinventar o mundo através de vocábulos estranhos para designar realidades antigas.

Há séculos que existem salas e salões de dança. Ou espaços, como é comum agora ouvir-se.
Mas parece que não chega, há que introduzir um toque de modernidade, de onde a desagradável designação de dançoteca.

Salvo erro, o elemento teca vem do grego theke que significa caixa ou cofre onde se guardava dinheiro ou ouro, por exemplo.

Percebe-se que numa discoteca se guarde discos.
Mas já não fará grande sentido chamar discoteca a um local onde se dança.

Curiosamente, os franceses (e nós também, décadas atrás) chamavam "boîte" aos locais onde se dançava à noite.
Ora boîte, precisamente, significa caixa.

Correcto é designar por biblioteca uma sala onde guardamos livros.
Contudo, parece-me inadequado o uso de ludoteca, por ser restritivo e passivo, oposto à ideia de liberdade, jogo, brincadeira. Mas enfim, devem achar erudita a palavra, julgo eu.

Dançoteca é, pois, um termo inútil, desnecessário, supérfluo e, sobretudo feio.
Tão feio como elencagem ou alavancagem.

Mas parece que há quem goste...

sexta-feira, 16 de março de 2007

E a vencedora é...

O mais recente número de "O Sesimbrense" faz lembrar o Clube das Donas de Casa, quase todo ele consagrado às mulheres, numa perspectiva de costureirinhas da rua do Saco.

Como é hábito, o editorial nada tem a ver com Sesimbra.
Depois, a propósito do Dia da Mulher, é impossível não manifestar certa estranheza perante os nomes das 7 homenageadas pela Liga dos Amigos de Sesimbra.

Parece que estamos em maré cheia de Homenagens, com os Óscares, "Os Grandes Portugueses", " As 7 Maravilhas de Portugal" e, agora, as 7 grandes figuras femininas de Sesimbra.

Eu não gostaria de ser antipático, mas é difícil resistir à vontade de perguntar à Dra. Isabel Peneque o que terá feito a D. Cremilde Peneque (além de ser tia da Directora do jornal) para merecer tal distinção?

Não contesto o mérito da D. Carlota, a parteira que tantos de nós ajudou a nascer. Mas a senhora morreu há largos anos. Porquê agora? Só porque mais vale tarde do que nunca?

E por aqui prefiro ficar-me, enquanto me interrogo sobre os critérios de selecção.

No fundo, nada disto tem grande importância, a não ser o facto de mostrar a decadência flagrante do que já foi um bom jornal...

Onde estava você...?

Os polacos são governados por dois irmãos gémeos, um que é Presidente da República e outro que chefia o Governo.

Não sei qual deles teve a ideia, mas original é ela. Nada mais nada menos do que perguntar aos cidadãos da Polónia quais de entre eles terão colaborado com o invasor durante o período de ocupação soviética.

Este processo de auto-denúncia não é, contudo, isento de sanções, uma vez que todos quantos se reconhecerem culpados, sofrerão perda de direitos cívicos durante dez anos.

Foi o que ouvi, por alto, na rádio, esta manhã. Se não for bem isto, paciência.

Mas, a ser fidedigno o conteúdo da informação, fica a ideia de que os manos, além de gémeos, são ingénuos.
Primeiro, porque convidam os polacos a admitir algo de que eles não podem obviamente orgulhar-se. Em seguida, porque os ameaçam com sanções.

Assim sendo, parece altamente improvável que o resultado da consulta popular revele que algum cidadão polaco tenha colaborado com o ocupante soviético. Olha quem!

Não creio que Cavaco Siva e José Sócrates queiram seguir este insólito exemplo, e custa imaginar uma espécie de referendo para se saber onde estava cada um de nós no 25 de Abril.

E, se acaso a inocência chegasse ao ponto de perguntar quem foi agente ou informador, iríamos certamente descobrir que, afinal, a Pide nunca existiu.

E que a rua António Maria Cardoso só é conhecida por lá existir um soberbo condomínio fechado...

quinta-feira, 15 de março de 2007

O impagável senhor Mister

Este senhor Scolari continua a ser um grande pândego.
Portugal, uma vez mais, teve uma fadazinha amiga no sorteio e calhámos (?) num grupo fraquinho, como já sucedera no apuramento para o Mundial.

O notável naipe de jogadores que temos dá para ficarmos em primeiro lugar com as duas pernas às costas, mas a rapaziada acha que pode dar umas baldas para criar algum "suspense" e evitar a monotonia de um percurso sem falhas.

Depois, vem o senhor mister Felipão com o choradinho do costume, sobrevalorizando o (débil) valor dos adversários, por forma a chamar a si a glória da qualificação que só um cego não vê que é facílima. Assim eles corram.

Hoje, o inefável Scolari, vai aos confins da memória buscar um dado estatístico arrasador e aterrador: Portugal não consegue ganhar à Bélgica, em fase de apuramento, há não sei quantos anos.
Por outras palavras, temos aí um adversário temível, instransponível, irredutível.

Ó senhor Scolari, não brinque com a gente. O passado é apenas curiosidade. As vitórias de há vinte anos não garantem triunfos hoje. Os jogadores são outros, tudo é diferente, quem vai nessa conversa, senhor Mister?

Coitados dos belgas, em que lugar estão na tabela (ou será ranking?) da FIFA?

Ó senhor Mister, vá tocar sambas prà sua rua.

As greves do costume

Qualquer dia, a grande notícia vai ser "Trabalhadores da Soflusa NÃO estão em greve".
É um folhetim que dura e persiste, sempre com o mesmo argumento, alguns trabalhadores que não se entendem com a administração e lixam a vida a muitos milhares de outros trabalhadores que precisam de vir do Barreiro para Lisboa.
E voltar.
Eu sei que vivemos em democracia e que os trabalhadores têm direitos. Mas como é possível que as Centrais Sindicais, esses iluminados organizadores profissionais de greves, há tantos anos a reflectir, ainda não tenham conseguido melhor do que a estafada fórmula "outras formas de luta". Outras? Mas que outras?

As formas de luta nunca são outras, a conversa é sempre a mesma, greve. E mais greve, à custa dos demais trabalhadores, num vampirismo egoísta e oportunista.
Será isto democrático? Será aceitável que determinados sectores de actividade (leia-se transportes) regular e gravosamente usem a generalidade dos trabalhadores como reféns até conseguirem o que querem para si?
O sindicalismo do século 21 continua, como na idade do carvão, a pôr as massas trabalhadoras umas contra as outras. Mas parece que toda a gente acha isto normal. É a modernidade em versão CGTP. É assim, é costume, é Portugal...

Dúvidas

Um das causas mais fortes do desgaste psicológico das pessoas é a dúvida.
Sem dúvida.

O único mamífero que encontrou a solução foi o Malato que, regularmente, vai explicando que, em caso de dúvida, compra-se.
Por isso, o endividamento das famílias está como está.

Por mais que finjamos, todos nós estamos mergulhados em dúvidas. A começar pelo Pilatos que não ouviu o Malato(s), não comprou e lavou as mãos.

Shakespeare nem dormia, hesitando entre ser ou não ser. O quê, não sei, mas a dúvida estava lá inteirinha.

Tenho um amigo que descobriu que tratar as melancolias dos cãezinhos é um negócio fácil e lucrativo. Coloca no divã tutus e suas donas, ouve, dá conselhos, conserta traumas (não muito grandes, só caninos), mas agora anda ele próprio cheio de dúvidas, pois não sabe como considerar-se, se é psi ou cadélico.

Outro, o P. Neves, da Almoinha, tem andado a podar a sua árvore genealógica e está muito perturbado porque não sabe se é primo ou génito.

Pior se sente a escultural Tânia que nasceu em Angola e a quem todos perguntam se é afro ou disíaca.

Já o irmão é um caso perdido, anda escanzelado e pergunta a si mesmo se é tóxico ou dependente...

Idênticos problemas têm os árbitros a quem certos dirigentes cobrem de prendas e perguntam se querem fruta ou chocolate.

Ambivalente e dividido anda o Tété que é tão asseadinho, gosta tanto de se lavar por baixo com um pó tão branco que também os seus amiguinhos passaram a consumir regularmente, mesmo sem saberem se aquilo é OMO ou sexual...

Neste último caso, se tiverem dúvidas, comprem OMO, não o outro, que aquilo pega-se... com a ponta dos dedinhos, claro.

quarta-feira, 14 de março de 2007

POUCO (bio) LÓGICO

Os nossos jornalistas têm fraca imaginação e deitam mão, com a maior das facilidades, a lugares comuns, chavões, frases feitas e rótulos de colar.

Desde o caso da menina reclamada pelo pai biológico e escondida pelos pais que a criaram, a palavra "biológico" aparece a torto mais do que a direito.

Agora, com a bébé que foi raptada e, felizmente, recuperada, é frequente ouvirmos falar dos pais biológicos.

Mas o que vem aqui fazer o adjectivo biológico? Para distinguir de quê ou de quem?
Será que a raptora merece ser designada por mãe?

Aquela menina tem apenas (e é maravilhosamente suficiente) PAIS.

Ou não será assim?

Os bastões do Innocent

Morgan Tsvangirai, líder da oposição ao regime selvagem de Robert Mugabe, no Zimbabué, foi agredido com bastões, no decorrer da sua detenção, e tem o crâneo fracturado.
É o resultado dos métodos democráticos praticados pela Polícia Republicana cujo Comissário Principal Adjunto afirma ter instruções para actuar com toda a firmeza contra quem interfira na ordem estabelecida. É isto, mais coisa, menos bastonada...

Entretanto, altamente revoltada, a União Europeia condena (e certamente repudia, suponho eu) a repressão violenta e contínua da liberdade de opinião no Zimbabué.

Naquele país, para evitar debates e discussões estéreis, só pode haver uma opinião, a do senhor Mugabe.
Para a contestar, argumentos e coragem não bastam contra os bastões do senhor Comissário que ostenta o idílico nome de Innocent Matiribi.

Naturalmente, os USA, pela voz da omnipresente Condoleezza Rice, acham que o regime de Mugabe só provoca o sofrimento do povo. Já não é mau.

Ah, se houvesse petróleo no Zimbabué...

Gabi e Fifi

Na passada segunda-feira, o Líder Máximo, Fidel Castro, recebeu Gabriel, não o anjo mas o Nobel Garcia Marquez, seu amigo e admirador de longa data.
Do que terão falado nada transpirou, mas não custa adivinhar uma conversa animada entre os dois velhos colossos.

Se o visitante fosse o nosso Nobel caseiro, e recordando o passado de El Comandante, talvez Saramago lhe tivesse dedicado o seu "Ensaio sobre a Cegueira" . Ou então, dado o estado do señor Castro, é provável que escolhesse o "Levantado do Chão".
O que teria, certamente, levado Fidel a chamar-lhe "Todos os Nomes"...

Trantado-se do amigo Garcia Marquez, admito que o grande escritor colombiano tenha querido exaltar o isolamento do combatente da Sierra Maestra ditado (ao ditador) pelo embargo americano. A ser assim, deve ter optado pelos "Cem Anos de Solidão" .

No fundo, e bem vistas as coisas, muitos títulos de romances de Garcia Marquez parecem concebidos a pensar em Fidel.
Tais são, por exemplo, os casos de " O Outono do Patriarca", "O General no Seu Labirinto" ou "Notícia de um Sequestro".

De menos bom gosto, de grande e irónica crueldade, teria sido a oferta da "Crónica de uma Morte Anunciada".
Conhecendo um e outro, Gabi e Fidel (tão bem como conheço Boby e Tareco), não acredito...

terça-feira, 13 de março de 2007

Outro mundo

Por um grande número de (raramente boas) razões, o futebol ainda é um mundo à parte.

Muita gente acredita que, se Vale e Azevedo tivesse continuado na presidência do Benfica, os inúmeros processos que lhe surgiram no caminho teriam permanecido no congelador, quem sabe, até prescreverem.

Se Mantorras fosse titular e estrela grande do Benfica, provavelmente nenhum GNR se lembraria de lhe pedir a carta de condução.

Se Luisão fosse apenas Luís teria pago uma multa severa, ficado sem carta e sabe-se lá que mais. Assim, nem o tal trabalho comunitário fará.

O russo Yuran, antigo jogador do Benfica e do Porto, encontra-se actualmente no Algarve a estagiar com a equipa que agora treina. Até aqui, nada de especial.

O problema é que este senhor Yuran, há alguns anos, madrugada alta, atropelou e matou uma pessoa, no Porto, tendo fugido do local do acidente para só voltar horas depois, uma vez eliminado qualquer rasto de álcool no sangue.
Posteriormente, fugiu ao julgamento, ausentando-se para a Rússia.

Desconheço o que se seguiu, mas pergunto se as coisas se teriam passado da mesma forma se, em vez de ser futebolista, Yuran trabalhasse nas obras.

Fica o alvitre aos nossos jornalistas sedentos de notícias sensacionais.
Vão ao Algarve e perguntem ao senhor Yuran como é que ficou o seu caso de atropelamento mortal seguido de fuga.
Seria interessante para encerrarmos este processo, mera curiosidade, não é?

A verdade é que no futebol há vários apitos, e a corrupção não se fica só pela arbitragem...

KIOTO

Há pouco tempo referi aqui o caso (mais um) de descargas poluentes de suiniculturas na ribeira dos Milagres, em Leiria.

Embora as questões ligadas ao Ambiente estejam cada vez mais presentes no nosso espírito, continua a haver uma distância infinita entre a realidade à nossa porta e os termos vagos e (sobretudo) longínquos dos protocolos que vão regendo as débeis medidas que os países mais poluidores tomam para reduzir os atentados diários ao equilíbrio do sistema ecológico do nosso tão martirizado planeta.

Por um lado, sentimos uma enorme frustração quando vemos que, à nossa volta, à nossa porta, continua a haver crimes ecológicos constantes, desde o lixo ou o entulho deixados onde calha até ao crime organizado de empresas que poluem em total impunidade.

Mas, por outro lado, vemos que os maiores responsáveis pela destruição do planeta só a muito custo assinaram o protocolo de Kioto e os compromissos inscrevem-se sempre num horizonte temporal espantosamente distante, como se não houvesse urgência na contenção.
E isto porque gigantescos interesses condicionam as opções, facto que nos incita a gritar a nossa revolta, mesmo quando recusamos o aproveitamento político evidente em algumas acções de protesto.

O problema é que, sim senhor, podemos discordar de certas formas de manifestação.

Mas Kioto recurso nos resta?

segunda-feira, 12 de março de 2007

A pão e água?

Diz o NOVA MORADA da passada sexta-feira que o programa agora anunciado para assinalar a abertura de portas do Cine-Teatro João Mota é faustoso. A palavra, adjectivo mui sério, quer dizer o seguinte: “que tem fasto, ostentação. Pomposo, arrogante”. Se a coisa tivesse sido alvitrada aqui na Magra Carta, erguia-se logo um pé-de-vento, instalava-se grande vozearia, aqui d’el rei, o diabo a sete, que lá estávamos nós com a nossa má vontade. Mas não. A coisa vem no pacato NOVA MORADA, a quem fugiu a boca para a verdade. Rui Veloso, Luís Represas, João Gil, Teresa Salgueiro e mais uns quantos que não são poucos. Tudo nomes de primeira água para deleite das massas, ao longo de algumas semanas. Ponto é saber de onde vem dinheiro para tudo isto, ponto é saber se a edilidade vai manter a pedalada. Aparentemente, o vil metal corre com abundância. Mas não será que, depois da indigestão, iremos ficar, até ao fim do ano, a pão e água?

Classe é classe

Quem não viu o filme de Claude Lelouch "La Bonne Année" não sabe o que perdeu.
Eu já o vi várias vezes e vou continuar.
Dele me lembrei hoje ao ler que, em Anvers (ou Antuérpia), um fino ladrão roubou diamantes no valor de 21 milhões de euros.

O distinto cavalheiro, de cerca de 60 anos, falando inglês e dizendo-se de nacionalidade argentina, foi o último cliente a sair da loja na 6ª feira e o primeiro a entrar na 2ª feira.
Sabe-se que usou chaves falsas, mas desconhece-se, por agora, se terá beneficiado de alguma cumplicidade interna.

O grande desafio, para ele, será conseguir vender a valiosa mercadoria, uma vez que todo o universo ligado às jóias está avisado.
Para a polícia, o desafio é apanhar o gentleman cambrioleur, como é conhecido Arsène Lupin.

Na mesma Bélgica nasceu Simenon, "pai" do comissário Maigret, polícia famoso que várias vezes se viu envolvido em investigações que o levaram ao mundo fabuloso dos escroques de alta roda, aos cavalheiros de indústria, aos grandes senhores que frequentam casinos e hotéis de luxo de Monte Carlo.

Em Cannes, o encantador Simon ("La Bonne Année"), planeou minuciosamente a golpada na joalharia Van Cleef &Arpels, conseguiu encher um saco com jóias e passá-lo ao seu cúmplice, tendo este fugido de barco para San Remo.

Porém, o nosso Simon, coitado, foi preso. Apanhou cinco anos, mas nunca revelou o nome do parceiro nem onde foram parar as jóias.
Saiu da prisão em 31 de Dezembro (daí o título), foi buscar a parte que o sócio, lealmente, lhe guardou e foi muito feliz que começou o novo ano nos braços da magnífica Françoise Fabian.

Roubar com esta elegância, sim, nada tem a ver com casas de alterne, fruta e chocolates do nosso miserável Apito de pechisbeque...

domingo, 11 de março de 2007

Que toma?

Confesso que nunca percebi por que foi que o Benfica contratou Tomo Sokota.
Já percebi melhor quando o impingiram ao FC Porto.
Voltei a não perceber para que foi o FC Porto buscar aquele medíocre avançado que, ainda por cima, se lesiona quase tanto como o Rui Costa.

Vale e Azevedo tentou (ingénua criatura) instaurar no Benfica o modelo dos contratos por objectivos, ideia que (sinceramente) reputo de brilhante.
Para o clube, não para os jogadores que querem é o euromilhares no fim do mês, quer joguem ou não, quer marquem golos ou não, quer façam apenas treino condicionado e andem muito concentrados...no banco ou na bancada.

Por isso, se alguém abordar a questão, é natural que o (chorudo) ordenadozinho certo ao fim do mês seja o esquema preferido. Todos aprovam e até o Rui gosta...

Mas, voltando ao nosso Sokota, não custa imaginar o sururu que o seu nome poderá ter criado numa casa de alterne onde terá ocorrido este diálogo entre um jovem e uma mocinha de generoso decote:
- Menina, quanto... enfim...quanto custa...?
- Olhe seu moço, me deixe tranquila, suma daqui.
- Mas porquê? Eu tenho dinheiro...
- Que não! Você é muito moço para o meu gosto. Você não sabe que tomo só cota?

Última hora: parece que o Porto, finalmente, acordou e o vai despachar para o Dínamo de Zagreb...

É óbvio

Um estudo científico acaba de revelar que, nos últimos 50 anos, a qualidade dos espermatozóides europeus está a diminuir.

Mais nos dizem os cientistas que essa degradação se deve aos nefastos efeitos do tabaco, do stress, da obesidade e da contaminação ambiental.

Perante tais revelações, apetece-me perguntar se o nosso dinheirinho não anda a ser desperdiçado com estudos que só concluem o óbvio.
Sim, admito que a qualidade do esperma na Europa já não seja o que era.

Mas é óbvio que não é por causa do cigarrito, da gordura nem dos gases tóxicos.

É óbvio que o nosso (salvo seja) esperma está a perder frescura.
Mas apenas e simplesmente porque a Europa é o velho continente...

Talvez PODER

O presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, tem 83 anos e está no poder há 27, sucessivamente eleito graças aos méritos da ditadura.

Melhor dizendo, o homem está agarrado ao poder há 27 anos, e aquele país é um exemplo (infelizmente não) acabado de miséria e opressão sangrenta.
3x9 27, desgraça para a eternidade.

Mas a comunidade internacional preocupa-se muito com os voos da CIA, se operaram ou não com licença (faz favor, por quem é), se foram servidas bebidas a bordo, se as meninas passaram com os carrinhos do free-shop.

E permitem que um ditador parecido com o gorila Amin Dádá continue a arrastar o povo daquele que já foi o celeiro de África para a mais terrível indigência.
Seá o Zimbabué assim tão longe?


Mas o poder é mesmo sedutor, não é?

Romano Prodi abalou, mas voltou.
Alberto João demitiu-se, na certeza de voltar.
Paulo Portas saíra em grande estilo, mas já aí o temos de volta.
Santana Lopes anda por aí enquanto Carmona não larga a cadeira.
Valentim esperneia e Pinto da Costa encolhe-se na sombra. Mas vão ficando.

Porque não basta querer ou crer, é preciso PODER.

quinta-feira, 8 de março de 2007

A boa e a má notícias

Este Governo é especialista em anunciar cedo o que nem sempre concretiza.
O efeito pretendido tem duas variantes.
Para as boas notícias, a ideia é despertar apreço e gratidão a partir da divulgação.
Para as más, o intuito é levar as pessoas a habituarem-se à inevitabilidade do infortúnio.

Deste último estratagema tivemos agora o exemplo com a ameaça de redução do tempo de férias (para 22 dias) e do aumento do tempo de trabalho semanal (para 40 horas), na Função Pública.

Lançada a bomba, as pessoas preparam-se para o pior e, dessa forma, facilitam a tarefa de quem irá negociar com os fracos Sindicatos.

A mais recente bandeira deste socrático elenco governativo é o generoso aumento que prometem dar a todos quantos recebem uma pensão de invalidez (que é de cerca de 230 euros).

A boa notícia é que o aumento rondará os 100 euros.

A má notícia é que tal só acontecerá daqui a cinco ou seis...anos.

Quem é amigo, quem é?

Afirmar não ofende

O presidente do Sporting diz, com todas as letras, que o árbitro e o jogador Rossato, do Leiria, MENTEM.

Eu não sei, não vi, não estive lá, mas não tenho a menor hesitação em acreditar nas palavras do presidente leonino.

Primeiro, porque o futebol é, todo ele, uma descarada mentira apadrinhada por políticos e alimentada pela Comunicação Social.

Para além disso, acredito no homem porque, se o outro Soares era fixe, este Soares é Franco...

Lembrar não ofende

Pode dar a ideia de que o senhor anda escondido, colado às paredes de balneários escuros, fugindo de câmaras e microfones.

Mas ele ainda anda por aí.
É presidente de um clube que tem ganho muita coisa, com enorme facilidade, e continua a chamar-se Pinto da Costa...

Perguntar não ofende

Como todas as pessoas bem informadas sabem, Valentim Loureiro foi, durante muitos anos, presidente do Boavista.

Também é do conhecimento geral que a camisola do clube do Bessa representa um tabuleiro de xadrez.

Ora, como a vida é um constante recomeço, será que no horizonte próximo do major se encontra outro xadrez?

quarta-feira, 7 de março de 2007

Não há lobo na costa

Esta tarde, um autarca madeirense, António Lobo, foi condenado a seis anos de prisão efectiva por corrupção.

Ao que se sabe, o presidente da Câmara de Ponta do Sol terá licenciado, a troco de dinheiro, um empreendimento imobiliário, imagine-se.

Nós lemos estas coisas e temos dificuldade em acreditar. Francamente! Ao que chegou este país, queridos compatriotas!

Só pode tratar-se de um lamentável equívoco, alguma armadilha, certamente uma cilada, já que considero impensável que um eleito do povo tenha podido deixar-se tentar pelo maganão.
Oh, não, mil vezes não!

Aquilo foi coisa má que lhe toldou a visão, talvez o Sol na Ponta do qual o Lobo costumaria dar o seu passeiozito ao crepúsculo.

Demos todos graças aos santinhos por (da mesma forma que Salazar nos livrou da guerra) os nossos autarcas terem tido uma protecção benfazeja que nunca os deixou cair em tentação.

Demos ainda e sempre graças por termos uma ponta com sol, do lado do Caneiro, mas não constar que haja lobos nas redondezas.
Abrenúncio, tarrenego!

Duas sem três

O Secretário de Estado da Administração Pública anunciou que os trabalhadores com nota negativa no desempenho, em dois anos consecutivos, serão despedidos.

Percebe-se a intenção do Estado que se quer ver livre dos menos capazes.

Porém, um dos problemas reside na (falta de) aptidão de quem avalia o funcionário.
Em muitos sítios, dirá o roto ao nu "por que saio eu e não tu"?

Há quem pense que, para além do risco de parcialidade e de incompetência de quem julga, existe outro perigo maior que é o de, em alguns organismos (certas autarquias, por exemplo) não ficar pedra sobre pedra.

Felizmente, não é o caso de Sesimbra onde a excelência predomina, a eficiência reina e o desempenho é irrepreensível.

Claro, a perfeição absoluta não existe. Por vezes, é verdade, lá vem um errozito, uma tímida bacorada.

É normal, é humano, acontece...

Uma questão de direito

Piergiorgio Welby, de 60 anos, estava a ser alimentado por uma sonda e apenas sobrevivia graças a um respirador artificial, tão artificial como a sua vida.

E esta dramática situação prolongou-se durante trinta anos.

Até que o médico, Mario Riccio, fez a vontade ao doente e desligou o ventilador, gesto que foi aprovado pela família.

Aconteceu em Itália e os Procuradores do Ministério Público acabam de ilibar o médico, decisão que, pessoalmente, aplaudo.

É certo que existe e deve ser defendido o direito à vida.

Mas também deve ser facultado aos seres humanos o direito à morte, com dignidade e humanidade.

O gesto (não) é tudo

O Apito Dourado fez-se ouvir, ontem, em Gondomar. E bem, para satisfação de todos quantos estão convencidos de que as muitas dezenas de crimes de corrupção imputados a uns quantos senhores não são fruto da imaginação dos juízes.

Mas o que poderá ser interessante é olhar as duas faces da moeda.

Eu sei que Lei é Lei e deve ser respeitada.
Por isso, até admito que possa haver inconstitucionalidade na chamada lei da Corrupção Desportiva. Sou leigo na matéria e dou de barato que sim.

Contudo, não posso deixar de ficar espantado perante a suposta existência de uma corrupção "desportiva". Porquê desportiva? Que tem ela de específico?

Acaso há vários tipos de corrupção? Corrupção autárquica, universitária, industrial, comercial, militar, bancária, etc? Corrupção é corrupção, só diverge na forma, na dimensão, nas consequências, mas a matriz é idêntica.

Mas o mais delicioso e significativo é os advogados dos arguidos apresentarem como defesa mais consistente a (hipotética) inconstitucionalidade da lei e a invalidade das escutas telefónicas que tudo revelaram.

Ou seja, não declaram o fundamental, ou seja, a inocência dos seus clientes.
Por outras palavras, ao se agarrarem às (pretensas) falhas ou vazios legais, apenas estão a admitir que os senhores são mesmo culpados.

Até podem vir a ter ganho de causa, tantas são as fragilidades da Lei e da Justiça.
Mas no planos da moral, da ética e da verosimilhança, tal atitude apenas reforça o que todos temos por certo, isto é, os senhores são culpados.

Tão culpados como aqueles jogadores que cometem faltas flagrantes e logo levantam os braços ao céu, numa patética e ridícula declaração de inocência.
Só se esquecem que nós não somos cegos e não vamos em conversas.

Quem é que lhes disse que o gesto é tudo?

Talvez f...

A ideia, já de si, era notável. Mas a hora escolhida, à beirinha do jantar, veio a revelar-se brilhante. O resultado foi um luminoso fiasco: nem um único mortal, moscas à parte, se deu ao trabalho de comparecer, na passada sexta-feira, no Auditório Conde de Ferreira, para opinar sobre o grau etílico das últimas infusões carnavalescas.

Tanta indiferença, tamanha ingratidão do povinho, não podem deixar de nos chocar, logo agora que a Câmara Municipal de Sesimbra, com absoluto desvelo, resolveu olhar por nós. O Carnaval, o “adeus à carne”, é consabidamente um tempo de desmando, e do aguilhão da sede aos ditames do cio vai um passo muito pequenino. Por isso - ficámos agora a saber - a diligência municipal estendeu-se, no último Entrudo, à distribuição, pela mão do seu sector da Juventude, de preservativos à população.

Será que coiso e tal de mais no último Carnaval?

Ou coisa que o valha

A Câmara Municipal de Sesimbra deu ontem uma conferência de imprensa para dar a conhecer à comunicação social em que pé se encontram as obras do Cine-Teatro Municipal João Mota. Nada disto teria afinal grande importância se a prometida sala de espectáculos, entre outros palpites, não tivesse estado para abrir no último Natal, e se o ajuntamento de ontem não tivesse sido pródigo em néctares e vitualhas. A actual gestão camarária é assim: tem o dom, sobre todos inusitado, de transformar em notícia uma conferência de imprensa. Ou coisa que o valha.

Coincidências...

Confesso que tenho uma enorme desconfiança relativamente a (quase) tudo que envolve futebol.
E o jogo desta noite deixa-me inquieto...

Há uns anos, o Porto eliminou o Manchester United com um golo OFERECIDO (é o termo) pelo guardião inglês, de forma suspeita, por tão infantil e atabalhoada. Estranhíssimo...

Numa final da Supertaça, o guarda-redes Helton, a jogar pelo Leiria diante do Porto, permitiu um golo igualmente estranho. Tempos depois, transferia-se para as Antas...

Depois do que vimos esta noite, se o Helton se transferir para o Chelsea, que nos resta concluir?

terça-feira, 6 de março de 2007

O DN é que nos tOPA

No futebol costuma resultar, mas no Diário de Notícias parece ter falhado.
Despedido o director, a coisa não melhorou. Se não, veja-se.

Ao consultar hoje, na Internet, a edição do DN, fui surpreendido com a presença de um inquérito. A pergunta é "Quem vai ganhar a OPA?".

E pedem-nos para votar.

Ainda estive para corresponder à solicitação, seguro de acertar.
Mas acabei por renunciar, nunca se sabe, o senhor Belmiro podia vir a saber e eu gosto de me dar bem com toda a gente.
Mesmo com os que fazem escrita criativa e inquéritos ao retardador.

Por estas e por outras é que se vê que todos erram, não são só a "Acontece" e "O Sesimbrense".

Já agora, alguém sabe se a OPA do Tomé sobre o Palhinhas vingou?

Pois, pois...

Digam o que disserem, o certo é que o nosso Alberto João vai levando a água ao seu moinho.

Com a retumbante demissão, criou um facto político que pôs as facções ao rubro, havendo até gente muito cotada que não só encontra fundamento para o gesto como lhe gaba a perspicácia.

No fundo, de herói lendário a vítima socrática é o caminho mais curto e mais seguro para uma reeleição programada, com legitimidade e maioria reforçadas.

É o que vamos verificar em 6 de Maio, data que o amigo e senhor Silva escolheu para a ida às (f)urnas.


Por vezes, dá a (falsa) ideia de doidivanas, de estarola e animador de Carnavais, mas a verdade é que esta sua decisão vem provar, de forma, indesmentível que, afinal, tem cabeCINHA JARDIM...

segunda-feira, 5 de março de 2007

Vale Azevedo

Esta guerra económica entre a Sonaecom e a PT, sob forma de OPA, revela alguns aspectos curiosos.

Primeiro, foi um duelo entre três homens, Henrique Granadeiro, por um lado, e a dupla Belmiro /Paulo Azevedo, por outro.

E porque estamos perante nomes conhecidos, podemos dizer que a vitória da PT permite concluir que, numa guerra, Granadeiro vale Azevedo. E mesmo dois.

Surpreendido fiquei agora quando Henrique Granadeiro falou de um império do móvel.

E eu que julgava que a capital do móvel fosse Paços de Ferreira...

Querido Estaline

O articulista que, no AVANTE, veio agora dizer que a democracia soviética foi a mais perfeita até hoje alcançada pela humanidade é o mesmo que, há algum tempo, no mesmo jornal, enaltecia Estaline. Façam favor de ler. Aqui.

Estamos conversados

As coisas querem-se claras e o Partido Comunista Português não as faz por menos. Por isso nos vêm agora dizer, preto no branco, que a democracia soviética foi a mais perfeita até hoje alcançada pela humanidade. É nas linhas que se seguem:

“Derrotada pela traição interna e pelo cerco imperialista, da democracia soviética, a mais perfeita até hoje alcançada pela humanidade, restam poucos focos no mundo que resistem. Mas outros se levantam.”

O artigo de onde retirei este extracto pode ser lido no AVANTE on-line. Aqui.

Eles assim o dizem. E se o dizem… Estamos conversados.

A tinta que pinta

Há muitos anos, havia um anúncio muito engraçado em que um senhor metia os pés pelas mãos, baralhando e confundindo as palavras tinta e pinta.

Foi o que me ocorreu ao ver o que alguém escreveu numa legenda, na SIC Notícias.

Esta mesma SIC é um dos organizadores do Campeonato da Língua Portuguesa, mas não tem, lá por casa, quem varra os erros e lave as calinadas.
Eu garanto que não faço de propósito, mas estas coisas saltam-me à vista.
Imagine-se que uma máquina multibanco fez disparar o sistema de tintagem, ou seja, ao ser assaltada, despejou tinta sobre as notas.

Eu sei que ninguém é multado por inventar ou deturpar palavras, mas a Comunicação Social tem uma acção pedagógica altamente importante.
Acontece é que nem sempre a exerce da melhor forma.

No caso presente, cresci a ouvir dizer que o acto de cobrir com tinta é pintar. Mas hoje vale tudo, muito pouca gente tem a preocupação de respeitar as regras por forma a preservar a nossa bela língua.
Por preguiça, pedantismo, facilidade (facilitismo não, por favor) ou qualquer outra razão, há cada vez mais quem mutile as palavras.

De tinta para tintagem é um salto. Será isto escrita criativa?

De tinta para tintar é outro pequenino salto, um "saltillo".

Senhores jornalistas, será pedir muito solicitar-vos que aprendam a ler e a escrever correctamente?

Eu sei que não é fácil, mas, ao menos, podiam tintar...

domingo, 4 de março de 2007

ÓÓÓÓ TIMOR

Em Timor, as Forças Internacionais de Estabilização, compostas por militares australianos, cercaram durante não sei quantos dias o major Reinado que fugira da cadeia, roubando armas e desafiando um poder que, visivelmente, muito pouco pode.

Timor é uma espécie de ilha das bananas, uma democracia feita à pressa onde todos suspeitam de todos e ninguém ordena.

Daqui a um mês vai ter lugar a eleição presidencial, com um Ramos Horta que não queria mas, afinal, sempre vai a votos.
E com o ex-primeiro ministro Mário Alkatiri, outro candidato, a ter como consultor de imagem e orientador da campanha um especialista brasileiro. Surrealista.

Enquanto isto, o major Reinado continua a brincar ao Robin dos Bosques, a reinar com toda a malta, desafiando as autoridades, locais e internacionais, sem o menor receio nem timor.

Quem pode levar isto a sério?

Só se for o oportunista do Represas que saca dinheiro de todos os quadrantes, com uma militância sempre disponível e colada à caixa registadora...

A módulos que...

Garanto que nada tenho contra a criação da Universidade Sénior. Bem pelo contrário, acho a iniciativa altamente louvável. E digo isto sem a menor ponta de ironia. Sinceramente.

Contudo, permitam-me a liberdade de exprimir alguma estranheza perante o que vi no quadro em que nos dão a conhecer as Áreas Temáticas, o Corpo Docente e os Módulos.

Por exemplo, pergunto a mim mesmo o que será "linguagem materna".
Tenho ouvido falar de língua materna, mas linguagem materna...

Será a linguagem usada pelas mães quando falam com os seus rebentos?
Ou então (com mais propriedade, neste contexto) a linguagem dos avós para os netos.
Fico a cismar...

Depois de ler os editoriais assinados por Isabel Peneque, dou por mim a tentar perceber se se trata ou não de escrita criativa. Continuo a cismar...

Criativa é, certamente, a forma séniores que surge mais de uma vez no mais recente número de "O Sesimbrense".

Talvez conviesse que a senhora directora desse já uma aulazita rápida para explicar ao seu pessoal que sénior faz no plural seniores, tónica no O, mas sem acento gráfico.
Tal como (já agora) júnior tem como plural juniores, também sem acento.

Por fim, confesso que sinto a maior curiosidade quanto à forma e ao conteúdo da "História das Religiões" que vai ser ministrada pela Dra. Felícia Costa.

Imagino que vá pôr o acento (muito) tónico nas celebrações, nos rituais, nas procissões, nos ofertórios, nas homilias exaltantes, nos cânticos inflamados, na coreografia e no folclore sagrado.

Ou seja, o grande desafio para a doutora Felícia vai ser combinar a filosofia pagã do "Carnaval todo o ano" com a sobriedade e o rigor da liturgia.

Suspeito que seja um exercício assim a módulos que acrobático...

Sete palmos de terra

O aparato gerado pela extrema-esquerda em torno do Museu do Estado Novo de Santa Comba Dão revela bem o que esta gente sinistra poderia fazer se algum dia chegasse ao poder em Portugal. Muitos de nós - quem sabe? - estariam já com sete palmos de terra em cima.
Curiosamente, não consta que o Museu do Neo-Realismo de Vila Franca de Xira tenha gerado alguma polémica, não obstante o marxismo-leninismo e a ditadura do proletariado estarem subjacentes à corrente estética a que pretende dar guarida.
Cada dia que passa, mais insuportável se torna a complacência de boa parte da imprensa e de muitos intelectuais portugueses perante uma ideologia assente na mentira, na repressão e na brutalidade, que, como nenhuma outra, violou os mais elementares direitos fundamentais e ceifou vidas humanas aos milhões. A verdade e a liberdade não são de esquerda nem de direita. São, ou não são. Simplesmente.

sábado, 3 de março de 2007

Como foi que disse?

Uma tal de União de Resistentes Antifascistas está presumivelmente escandalizada com a criação de um Museu do Estado Novo no Vimieiro (Santa Comba Dão), de onde era natural António de Oliveira Salazar. Este grupo de indivíduos pretende mesmo acabar com a coisa antes de ela nascer, isto é, abortá-la. Conviria que alguém lhes explicasse duas ou três coisas muito simples. Primeira: que a liberdade não é só a minha liberdade, mas também a liberdade do outro, do diferente, até do oposto. Segunda: que o Estado Novo, por muito mau que possa ter sido, será sempre uma imberbe brincadeira de crianças ao pé dos horrores do regime estalinista. Para não irmos mais longe. Terceira: que o regime de Salazar – goste-se ou não – faz parte da nossa História. Como foi que disse? “As mais amplas liberdades”?

Impagável Liga

Muito boa gente atrasa-se, esquece mesmo o pagamento das quotas, o que torna esta Liga dos Amigos de Sesimbra impagável.

Mas, por outro lado, ela é mesmo impagável.

Acabo de ver o texto da convocação para a Assembleia Geral e lá encontro preciosidades como "Se hora marcada...", "reunirá meia horas depois" ou ainda "Chamamos a atenção dos respectivos associados".

E porquê o hífen entre Assembleia e Geral?

Ninguém relê estas coisas?

Não faz a Liga boa figura, pois não?

Um país moderno

Pensar que as nossas palavras poderão ter alguma influência nas pessoas ou na sociedade é ingenuidade e lirismo contra os quais estamos vacinados desde a nossa meninice.
Temos uma noção exacta de quão magra é esta nossa Carta, e tudo quanto fazemos é arte pela arte, prazer puro salpicado por alguma irreverência, é certo, e um pouco de boa intenção.

Por isso, não posso deixar de retomar o tema das criminosas descargas poluentes provocadas pelas suiniculturas, na região de Leiria.

A mais recente aconteceu, salvo erro, anteontem, na tristemente famosa Ribeira dos Milagres, e os seus autores não foram identificados. Como é costume.

É, de facto, se não um milagre, pelo menos um portento de camuflagem, de discrição, de subtileza, ilusionismo puro, para que a GNR nunca consiga detectá-los.

Mas como as pessoas não são estúpidas, um ambientalista explicava que esta impunidade se deve à chantagem dos industriais que ameaçam com despedimentos.

E assim as populações, a região, o País, o Governo, todos são reféns desta horda de criminosos relativamente aos quais não há operações Furacão nem a menor acção punitiva.

É este o país moderno, do Simplex, da qualificação tecnológica, o País que vai presidir à União Europeia, daqui a meia dúzia de semanas.

Talvez o engenheiro Sócrates se lembre de mostrar aos seus homólogos os milagres deste País.
Poderiam até fazer um lauto pic-nic junto à ribeira.

Esta porcaria dura, em Leiria, há uma eternidade.
E Leiria fica a 120 quilómetros de Lisboa, de S. Bento, do Palácio de Belém, do Parque das Nações, do CCB, do Portugal virado para o futuro.

E a cheirar a merda...

sexta-feira, 2 de março de 2007

Damas, Bento...

Há poucos anos, foi Vítor Damas a deixar-nos. Agora é o Manuel Bento, seu rival na defesa da baliza da Selecção Nacional, que se vai, subitamente.

Para além das evocações habituais nestas circunstâncias, gostaria de sublinhar aquilo que me parece mais interessante, a comparação entre os dois guarda-redes.

É invulgar que dois jogadores de características diferentes tenham atingido um nível tão elevado, sendo dignos um do outro e dificultando a vida a quem tinha de optar por um deles.

Damas foi, a meu ver, o guarda-redes ideal, quase perfeito.
Só lhe terá faltado um pouco mais de arcaboiço físico para as jogadas de choque, no ar.
No resto era insuperável, fino, ágil, bem colocado, mãos seguras, uma silhueta única, um recorte inconfundível.

Bento era baixinho, franzino, quando jogava no Barreirense.
No Benfica ganhou "estaleca" e confiança, tendo conseguido superar as suas insuficiências físicas com um carácter, uma garra, uma audácia que faziam dele um gigante na baliza.

Não sendo tão bonito a jogar, Bento chegou a igualar e (muitas vezes) a superar Damas na eficácia, no rendimento, proeza que merece admiração.

Damas terá sido o artista, no ponto mais alto da execução.
Bento foi um artesão indomável, moldado no aço da tenacidade.

Ambos partiram apenas porque nem os deuses dos estádios são imortais...

quinta-feira, 1 de março de 2007

PORTAS de JARDIM

Paulo Portas acaba de anunciar que está de volta às lides, ou seja, que retoma o bastão de peregrino e parte à procura da terra prometida, isto é, a presidência do CDS-PP.

Há uns anos, na campanha para a Câmara de Lisboa, Portas garantia "EU FICO".
Mas não chegou a entrar nos Paços do Concelho.

Depois, com a derrota nas legislativas, Portas anunciou "EU PARTO". E deixou o CDS sem PP.

Hoje, o inconstante Paulo surge nos nossos televisores, à hora do telejornal (calhou assim), para nos trazer a boa nova, afirmando "EU VOLTO".

E vamos tê-lo a desafiar Ribeiro e Castro para um duelo ao pôr-do-sol, num Congresso que não deve tardar.

Decididamente, estamos em maré de eleições intercalares.
Depois das peripécias na Câmara de Lisboa, com o espectro de eleições antecipadas a pairar, foi o inefável Jardim a bater com as portas e a procurar uma legitimidade reforçada.

Agora é o nosso Paulo a abrir portas a novo ciclo no depauperado CDS-PP.

Quem é o senhor que se segue? Menezes? Não creio, esse morde os calcanhares do pequenino Mendes, mas logo mete o rabo entre pernas.

Será a chegada da Primavera a inspirar tanta febrilidade?

A Nave dos Loucos

1. Depois de ter ficado ciente, pela leitura do DIÁRIO DE NOTÍCIAS da última segunda-feira, dos dez projectos com que Augusto vai mudar a vila de Sesimbra até 2013 (repararam na sobranceria de quem já dá por assente um segundo mandato à frente dos destinos do concelho?), cheguei agora à conclusão de que o edil descobriu o papel que lhe está destinado no meio disto tudo. É o papel cenário.

2. Sem esquecer, claro está, o papel de jornal. No último RAIO DE LUZ, Augusto, do seu recanto, dissertou longamente sobre os problemas da Saúde e da Segurança no concelho. O autarca marcou ainda presença destacada numa manifestação de protesto, realizada em frente ao Centro de Saúde de Sesimbra, cuja organização, irrepreensível, ficou, como habitualmente, a cargo das principais figuras locais do Partido Comunista Português. O ajuntamento, bem entendido, teve como único motivo o estado da saúde no nosso concelho, mas o mensário santanense, com o seu inestimável zelo efabulador, garante-nos, sem curar do ridículo, que a concentração teve também que ver com o problema da segurança, adequando o teor da peça informativa à opinião presidencial. É tal e qual como na orquestra: o primeiro violino é a estrela a seguir.

3. Por falar em estrelas… a Dr.ª Felícia, depois de um período de relativo apagamento, parece apostada em regressar aos tempos áureos do seu frenesim. Com efeito, está aprazada para amanhã, dia 2, às 19h30, no Auditório Conde de Ferreira, uma conversa destinada a dar resposta à seguinte questão: Bebeu-se demais no Carnaval?, tendo por destinatários as famílias e os educadores. Não sei como poderá reagir o Engenheiro Carlos Macedo perante tão incómoda insinuação sobre os reais méritos da única manifestação cultural do concelho; mas consta que o Mouco, perante uma iminente quebra acentuada na venda das imperiais, se apresta a encabeçar a insurreição dos estabelecimentos congéneres. Seja como for, atendendo à hora tardia da conversa, faço votos de que haja rissóis e croquetes à espera dos circunstantes. E um sumito de laranja, claro está.

4. Imparável, a Dr.ª Felícia volta a brindar-nos com uma Onda Jovem por altura das férias da Páscoa. Segundo a prestimosa Sesimbr’Acontece, são duas semanas de actividades destinadas a desenvolver o espírito de equipa, a capacidade de tomada de decisões, a cooperação e a responsabilização, de forma a prevenir comportamentos de risco. A receita é simples, e passa por organizar eventos de incontestável alcance sócio-educativo, tais como: um concerto dos Corvos na Fortaleza; uma edição do Grémio ao Vivo no Grupo Desportivo do Conde 2 (terá havido outra OPA?); uma visita ao treino da Selecção Nacional de Futebol; Tiny games – actividades radicais; 24 Outdoor; um concurso de karaoke com três eliminatórias; um Workshop Dijing no Bar Reflexus da Quinta do Conde; uma Noite Lounge – CNN + Salva Vidas; uma Noite da Percussão; uma Noite da Playstation; uma Noite POP; uma Noite Tiny; uma Noite Rock; uma Noite do Circo; uma Noite Lounge. Registo ainda, mal refeito da surpresa, mas assaz comovido, a ocorrência, de 2 a 4 de Abril, de um Workshop Blog, presumivelmente sobre os blogues e a blogosfera. Quase um ano depois do celebrado debate na Biblioteca, a senhora rendeu-se.

Quem dá mais?

Há dois anos, um dos candidatos à presidência da Académica apresentou uma visão romântica, com jogadores verdadeiramente estudantes e não por profissionais da bola que descaracterizam a velha Briosa, fazendo dela uma equipa como as outras.

Fatalmente, foi vencido por outro que exibia um projecto grandioso, uma perspectiva empresarial, cheia de ambição e de empreendedorismo.

Esse é o actual presidente que acabou arguido em vários processos que envolvem urbanismo, a Câmara Municipal e fundos para a equipa.

A mesma equipa cuja camisola preta exibe SEIS anúncios de patrocinadores. Mais o da Bwin, a dona da Liga, que todos trazem no braço.

Uma camisola heróica que está transformada numa manta de artigos a retalho.

Talvez isto seja sinal dos tempos, desta modernidade em que tudo se vende, tudo se compra, desde produtos e serviços atá às consciências.

Talvez seja esta a forma de o Estado resolver as carências na Justiça e na Saúde, cedendo à publicidade togas, becas e batas brancas.

Ou as fardas das Forças Armadas. Armadas em quê?

Em homens-sanduíche, pois claro...