quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Cartão vermelho

Augusto Pólvora, que é adepto do Benfica – hélas! –, decidiu, há dias, associar-se a uma iniciativa do núcleo sportinguista de Sesimbra. Nesse dia, presumo eu, o adepto do Glorioso permaneceu em sua casa e apenas o Presidente da Câmara, algo contrariado, se terá feito à estrada, rumo ao conclave verde e branco. Quem, durante a celebração, não quis saber de tão subtil destrinça foi um destacado adepto leonino que, segundo me disseram, no uso da palavra, e olhos nos olhos, apontou dois tremendos defeitos ao edil sesimbrense: ser benfiquista e militante do Partido Comunista. Entretanto, as opiniões dividem-se: há quem diga que foi mostrado um cartão vermelho ao autarca e há quem julgue que ele foi apanhado em fora-de-jogo. Seja como for, a arbitragem deixou algo a desejar, pois Augusto foi vítima de uma entrada a pés juntos...

É justo

Para muita gente, o ex-Procurador Geral da República, Souto Moura, é um homem cinzento que deixa poucas e más recordações.

O seu percurso fica marcado por declarações inoportunas e infelizes, equívocos e errâncias no caso Casa Pia, sobretudo.

Assim parece não ter entendido o Presidente da República que decidiu condecorá-lo com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, estando a cerimónia marcada para a próxima segunda-feira, no Palácio de Belém.

Contudo, fontes que não sou obrigado a revelar, garantem que, afinal, a medalha vai ser enviada ao interessado pelo correio.

Dentro do Envelope 9...

Talvez SIM

Vamos lá ver se nos entendemos.

1- Há um consenso alargado, com um ou outro cambiante, de que, a partir da fecundação, há vida.

2 - Ninguém, em seu perfeito juízo, é favorável à supressão dessa vida.

3 - Com a actual ou outra lei, o aborto existe e existirá. Sempre. Inevitável e fatalmente.
Por uma razão clara e decisiva: nem toda a gravidez é desejada.

4 - Num mundo ideal, não haveria um só aborto, TODAS as crianças acabariam por nascer, saudáveis, para total felicidade da família.

5 - Mas esse mundo não existe.

6 - A despenalização não vai acabar com o aborto nem vai promovê-lo. A única diferença, relativamente à actual situação, é deixar de considerar como criminosas as mulheres que abortam.
E, sobretudo, criar boas condições, por forma a lutar contra o perigo, a insegurança e a exploração que envolvem o aborto clandestino.

7 - Despenalizar o aborto, dizer SIM, não é convidar, muito menos impor o aborto.
É apenas conceder uma escolha, em liberdade e sem ameaças penais.
E em melhores condições de assistência médica e psicológica.

8 - Infelizmente, o aborto é um combate perdido, quer se vote sim ou não.

Talvez o SIM seja apenas o mal menor...

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Por um canudo

A governação de Augusto Pólvora não prescinde de umas quantas bandeiras, de um certo número de causas que, a par do permanente período festivo em curso, ajudem a maquilhar a inoperância fundamental da sua gestão. Ele é o POPNA, volta e meia requentado a preceito, doseado quanto baste, para inebriar o eleitorado da vila; a agitação, parodiante e gaiteira, em torno da co-incineração, destinada a inflamar os votantes camponeses; e a lenga-lenga da Extensão de Saúde da Quinta do Conde, para encantamento dos autóctones. As tarefas do caos estão sabiamente repartidas: Augusto subverte, Felícia diverte. Para o resto, há sempre, como na capa do último boletim municipal, o recurso à foto de uma manilha de esgoto com vista para Alfarim, o laborioso desenhar do futuro, a bondade ingénita do poder local de Abril, brotando por entre as grilhetas. A manilha de esgoto em Alfarim só apresenta um senão: doravante, cada dia que passar sem ser enterrada, torna mais provável o paradoxo esperado de alguém ficar a ver Braga por um canudo.

Outro "shot" de cicuta

Um dos intervientes no "Prós e Contras" de ontem foi o treinador do Benfica, Fernando Santos, que (apenas por curiosidade) não terá sido dos melhores em campo.

Como é sabido, o homem é católico convicto, até já ensinou o catecismo, razão pela qual não surpreende que seja defensor do NÃO.

Mas, se aceitamos a opção de Fernando Santos, já temos mais dificuldade em perceber que o treinador esteja de acordo com o cidadão.

É que o treinador tem, todos os dias, diante dos olhos aquele assustador Luisão, enorme e feio, tão feio que alguns marotos aqui da minha rua lamentam que a mãezinha do jogador tenha feito questão em não abdicar da criança...

Claro, não são coisas que se digam, é maldade venenosa.

Juro que já ralhei com eles...

A directora

Permitam-me algumas anotações sobre “Os Grandes Portugueses”. Dei uma vista de olhos pelos dez nomes mais votados neste concurso televisivo (ou passatempo, ou lá o que seja). A coisa, já de si desagradável, vale o que vale – e, convenhamos, vale muito pouco. Que El-Rei D. Dinis – o mais notável estadista que Portugal alguma vez conheceu – não conste entre aqueles nomes, é, em absoluto, revelador. No rol derradeiro, é certo, encontra-se D. Afonso Henriques. Mas fica a faltar D. Manuel I. Por outro lado, ninguém escapa às figuras sinistras de Salazar e de Cunhal, e às silhuetas, pouco simpáticas, de D. João II e do Marquês de Pombal. Valham-nos os poetas, Camões e Pessoa. Este último, segundo parece, via-se a si mesmo como o supra Camões. Pena é que, naquele programa, tenha como defensora Clara Ferreira Alves, a mesma que, quando era directora da Casa Fernando Pessoa, veio dizer, urbi et orbi, que o lado religioso do poeta não lhe interessava nada – e era detestável. Simplesmente – eis aqui a chatice –, o único livro que Pessoa parece ter querido publicar em vida vem a ser um dos livros mais religiosos que alguma vez se escreveu. Chama-se este livro Mensagem e, nas cifras da sua estrutura e da sua linguagem, é uma obra herética. Claro que Clara não viu isto, nem viu nada, claramente visto. Mas, tal como a celebrada personagem queirosiana, tem imenso talento. E chegou a directora…

Vergonha

O antigo jogador e seleccionador, o "magriço" José Torres, está a viver um drama terrível, há vários anos, entre a implacável doença de Alzheimer e a falta de recursos económicos.

Neste momento, Torres estará já acamado, não reconhecendo as pessoas que o rodeiam.

Tarde, demasiado tarde, a Federação concedeu-lhe um subsídio de cerca de 10 mil euros, enquanto o Benfica (finalmente) mandou fazer milhares de "t-shirts" que estão a ser vendidas pelo mundo fora, através das Casas do clube.

Há pouco tempo, os jogadores encarnados entraram em campo com a "t-shirt" do Torres por cima das suas camisolas, após o que cada um ficou com a sua.

A nota arrepiante é que as "t-shirts" custam 10 euros cada e os milionários craques do Benfica limitaram-se a contribuir com aquela insignificante soma. Nem mais um euro para o Zé Torres.

Já houve tempo em que a solidariedade fazia parte dos pergaminhos do Benfica.

Hoje, a descaracterização não se fica pelo pindérico equipamento alternativo cor-de-rosa...

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Posso dizer a frase?

A candidata socialista à presidência da França, Ségolène Royal, tem vindo a meter o delicado pé na argola, correndo mais do que a bola, falando do que conhece mal, enfim, salpicando de patetices a imagem favorável que uma maioria de franceses tinha dela.

Há pouco tempo, no Canadá, abordou de forma lamentável a questão da soberania do Québec.

Depois, deu uns palpites infelizes sobre a independência da Córsega, tema sensível e explosivo, na mais lata acepção da palavra.

Por fim, foi vítima de uma brincadeira feita pelo telefone, episódio rocambolesco que me fez pensar no que aconteceu ao Dr. Manuel Sérgio, há um bom par de anos.

O Dr. Manuel Sérgio, no tempo dos outros senhores, foi, no mínimo, um silencioso opositor, expressão que constitui um eufemismo muito simpático.

Após o 25 de Abril, descobriu uma alma esquerdista inesperada, embora tal inspiração não o tenha impedido de cair numa ratoeira telefónica altamente divertida.

Um bom imitador assumiu a voz de Cavaco e "convidou" o Dr. Sérgio para Ministro, cargo que o bom esquerdista aceitou sem pestanejar.

Estes factos, benignos e saborosos, apenas nos devem alertar para o risco de brincadeiras que nos podem deixar em situação delicada.

Sobretudo, quando o telefone toca...

Académicos...mas pouco

Antigamente, havia a ideia mais ou menos generalizada de que os futebolistas não primavam pela inteligência, preconceito tão injusto como insinuar que todos os actores são efeminados ou todos os autarcas corruptos.

A verdade, porém, é que alguns jogadores têm comportamentos, em campo, que tendem a confirmar o antigo juízo sobre eles formulado.

Por exemplo, eu não sei o que se ensina na Academia do Sporting, em Alcochete, mas certos alunos devem ser muito cábulas ou de raciocínio lento.

O brasileiro Polga já apanhou vários cartões amarelos (alguns seguidos de vermelho) por faltas absolutamente desnecessárias cometidas no meio campo do adversário.
Alguém pode entender?

No Restelo, foi Carlos Martins, no espaço de um minuto, o autor de duas faltas tão flagrantes como dispensáveis que lhe valeram a expulsão, com consequências evidentes para a sua já frágil equipa.

Agora, no Bessa, foi outra expulsão caricata (Alecsandro) e um penalti fatal por mão precipitada, injustificada e irresponsável de Tello.

Ora, tanto erro leva-nos a pensar que os alunos de Paulo Bento talvez andem a estudar de mais e vivam no vértice do esgotamento.

A não ser que haja por ali aulas de substituição que desconcentrem os rapazes...

domingo, 28 de janeiro de 2007

Perguntar não ofende

Este tema do referendo do aborto é uma mina para quem se envolve com paixão e para quem leva isto com uma perna às costas e alguma irreverência à mistura.

Por exemplo, o Simãozinho (que em breve vai equipar de cor-de-rosa) já deve andar enfadado com o assunto, uma vez que o seu nome comporta, de forma aglutinada, as duas respostas pedidas aos Portugueses, sim e não.

Os defensores do NÃO consideram que abortar é matar. É uma posição legítima. E, por isso, defendem a manutenção da lei em vigor.

Ora, numa perspectiva semelhante, todos nós vemos, por toda a parte, a denúncia ameaçadora : "FUMAR MATA".

Assim sendo, por que razão o nosso Governo não proíbe a venda e o consumo do tabaco?

Quantas pessoas morrem de cancro nos pulmões por causa do tabaco?

Quanto custa isso aos contribuintes, fumadores ou não?

Quantas mulheres morrem devido a abortos?

Quanto custa propiciar abortos seguros?

Quanto rende o tabaco ao Estado?

Já estou como o Guterres, à nora com o PIB. É só fazer contas...

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Demência

As razões são sempre muito mais obscuras do que se possa estimar, mas os factos, inexoráveis, revelam-se na sua evidência nua, crua e cruel. Verdadeiramente, a globalização, a modernidade e as sociedades abertas, ditas do conhecimento, a que deram origem, servem para estender a demência a todo o orbe. Pelo menos, não saberei entender de outra forma a monstruosidade que, ontem, Ruben de Carvalho tão lucidamente aqui denunciou.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Aliás...

Quando penso que o país bateu, de vez, no fundo, a realidade encarrega-se sempre de me desmentir. Agora foi o melodrama televisivo gerado em torno de uma jovem actriz, acometida de doença respiratória, que um canal televisivo acompanhou pari passu, com honras de Estado e repórter de plantão à porta do hospital, sem falhar um directo nos serviços noticiosos. Fiquei a saber que se trata de uma tal Rita Pereira, aliás Estrelinha, aliás Doce Fugitiva, aliás…

Um shot de cicuta

A partir de que momento se pode considerar que alguém sofre de doença prolongada?

Por outras palavras, qual é o tempo normal, oficial ou legal para uma doença?

A partir de que altura se entra no prolongamento, vulgo tempo de compensação?

No fundo, gostaríamos de saber se Fidel Castro

a) ainda está vivo

b) está no prolongamento

c) vai a penaltis

Respostas para www.superligaditadores@gulag.urss

O vencedor ganha uma viagem num avião da CIA e um beijo repenicado da dona Ana Gomes.

A quadratura do círculo

No “Sopa de Pelim”, o Barco a Remos dá-nos conta de não ter gostado muito do que leu no último RAIO DE LUZ sobre a questão do aborto. Não afino pelo mesmo diapasão. Pelo menos, ao ponto de execrar o argumentário. O texto de Duarte Nuno de Bragança, por exemplo, procura avançar razões e, sendo incisivo, não creio que discuta “ad hominem”. Espero que ninguém se importe que católicos convictos invoquem o seu credo para se pronunciarem pelo NÃO. Afinal, os tempos inóspitos do Dr. Afonso Costa já lá vão. Para intolerância, convenhamos que basta a do director do RAIO DE LUZ, quando, num editorial – façam o favor de ler o jornal de Dezembro passado –, promete pública e literalmente as penas do Inferno a quem não vê com bons olhos a construção da nova sede do Centro de Estudos Culturais “Raio de Luz”. Sobre semelhante inovação teológica, seria útil saber o que pensam o Bispo de Setúbal ou os párocos do concelho. Bem sei que também ninguém os ouviu verberar o alinhamento comunista do periódico, mas há sempre quem diga que a quadratura do círculo é possível.

Democracia versão PS

São todos bons rapazes, bem intencionados e muito engraçados.

O engenheiro João Cravinho, quando foi ministro, teve nos braços processos altamente melindrosos que cheiravam a corrupção a quilómetros de distância e envolviam a (então) Junta Autónoma de Estradas.

A única medida visível foi mudar o nome ao organismo porque, no tocante a corrupção, só um traço contínuo de assobios para o lado e uma tabuleta a dizer "Quem vier atrás...".

Ora, há tempos, o deputado Cravinho teve uma visão celestial e deu à luz um conjunto de medidas anti-corrupção que atirou para cima da bancada do seu Governo.

Num gesto de Zorro ou Cavaleiro Branco, Cravinho desembainhou a espada, ergueu a lança e entalou os camaradas que andam, há meses, a desviar para canto e a deitar bolas fora.

Por fim, pensaram melhor e arranjaram-lhe um tacho que trazia uma rolha na asa. Cravinho aceitou o tacho, mas não pôs a rolha na boca, antes continuou a insistir no pacote anti-corrupção.

Com o homem já de malas feitas, a caminho de Londres, o PS acaba de aceitar discutir o projecto.

Mas não sem que Alberto Martins viesse, candidamente, lembrar que sim, senhor, vamos lá então, mas lembrem-se que só será aprovado o que o PS quiser.
Para isso serve a maioria absoluta. Quem duvida?

Há muitos anos, noutro país europeu, um deputado PS teve uma observação parecida, quando se dirigiu à oposição, dizendo, com toda a desfaçatez:
- "Pois é, vocês têm razão, mas nós temos a maioria".

Malhas que a democracia (entris)tece...

Indignidade

Ontem à noite, a equipa de hóquei em patins da Oliveirense venceu a sua congénere de Porto Santo em jogo do Campeonato da 1ª divisão nacional.

Até aqui, nada de extraordinário.
O espanto, porém, reside no volume do resultado : 63 - 0.

Eu conto : o Portossantense anda às turras com a Federação e tem jogadores castigados. Outros estarão (parece) lesionados.
Por isso, para manifestar o seu desagrado, mandou para Oliveira de Azemeis uma equipa constituída por miúdos inexperientes e mal preparados.

O resultado está à vista.

Se esta atitude surpreende, a reacção do treinador da Oliveirense é verdadeiramente alucinante. O senhor Tó Neves, antigo internacional, criticou asperamente os dirigentes insulares que, desta forma, expuseram os miúdos a uma derrota pesada.

Ora, pior que esses dirigentes estiveram os jogadores e o treinador da Oliveirense que massacraram e humilharam cruelmente os rapazinhos.
Se tivessem tido um mínimo de pudor, teriam ganho por sete ou dez golos, sei lá. Mas 63 !!!

Teria sido difícil fazerem girar a bola sem marcar golos, deixando passar o tempo? Não poderiam ter deixado os miúdos jogar um bocadinho?

Que desportistas são estes que se comportam como verdadeiros predadores sanguinários ?

Foi triste e miserável, senhor Tó Neves. Que falta de dignidade !

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Preto no branco

O jogador Miguel, ex-Benfica e agora do Valência, anda muito triste por causa de atitudes racistas de que tem sido vítima.

Admito que sim, que o rapaz seja sensível e não goste que lhe chamem preto.
Mas não deixa de ser estranha esta reacção, já que a sua raça é negra, e preta a sua pele.
Se lhe chamassem branco é que ele podia sentir-se insultado.

Afinal, Miguel deveria ter orgulho em ser reconhecido pelo que é, preto, negro.
Atente-se no exemplo de um outro futebolista que tinha tanta vaidade em ser branco que até o nome era Branco.

Era defesa, como Miguel, mas homem de esquerda, jogava na faixa de terreno oposta.

Actuou no Porto e foi campeão do Mundo pelo seu país, o Brasil...

Anda, Gomes

Há pessoas assim, sempre em bicos de pés, de bicos no ar, prontas para aplicar uma ferroada na primeira ocasião, sedentas de protagonismo.

É o caso da eurodeputada Ana Gomes, febril, eléctrica, de rede na mão à caça de gambozinos.

Desterrada para Bruxelas por um PS que já não tinha paciência para a aturar, a senhora descobriu que a CIA organizavas viagens muito "low cost", à borla mesmo, para turistas de Guantanamo.

Nada mais natural, CIA é a abreviatura de "Companhia", neste caso aérea.
Onde está então a admiração quando uma companhia aérea transporta passageiros?

Ah, mas não nos pediram autorização !! - clama, protesta e bate o pé a nossa Ana.

ANA que, recordo, é a entidade que gere os aeroportos, o que talvez explique o esbracejar da senhora eurodeputada.

Com tantos assuntos graves, candentes, escaldantes, no nosso país, anda esta criatura, há meses, a correr atrás do Governo, do barbudo Luís (mal) Amado e a virar os Açores do avesso à procura de provas.

Ó, dona Ana (praia algarvia), mas alguém, a não ser uns quantos inquisidores, quer saber se os tais aviões sobrevoaram ou tocaram o sagrado solo português?

Francamente, tanto ardor, tamanha sanha, só certos bichos com cio e a nossa Ana com a CIA...

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Um poço

Segundo o NOVA MORADA, o recém-criado Movimento Cívico por Sesimbra anunciou a semana passada estar na génese de um processo que trará o Metro de Superfície até Sesimbra. A ideia propalada por este grupo, de presumível origem partidária, e que, não obstante pretender ser “tu cá tu lá” com a CCDR-LVT, tende a representar-se a si próprio, emana a simpatia reconhecível aos melhores caixeiros-viajantes; mas, a quem tiver dois dedos de testa, revela-se puramente irrealizável no plano comercial. A falácia é de tal ordem que Augusto Pólvora, qual súbito paladino da contenção urbanística, já veio explicar pacientemente que só o desenfreado crescimento das freguesias do Castelo e de Santiago poderia sustentar, num futuro indeterminado, a viabilidade económica da coisa, que o grupo parece agora apresentar como favas contadas. Mais duas ou três como esta, e o novel movimento cívico transforma o edil comunista num poço de credibilidade política.

Augusto e a democracia

No último RAIO DE LUZ, na sua habitual coluna de opinião, Augusto Pólvora revela grande dignidade ao assumir como uma derrota pessoal a frustrada eleição de Aurélio de Sousa para o cargo de Provedor Municipal. O autarca chega a pedir desculpas públicas ao candidato rejeitado, “por o ter arrastado involuntariamente para uma decisão que não dignifica o poder local em Sesimbra”. Até aqui, está tudo muito bem, visto que a situação é objectivamente lamentável.
O pior é quando Pólvora invectiva os réprobos ignotos que, com os seus votos negativos, impediram a escolha de Aurélio. Ao afirmar que nunca lhe “passou pela cabeça que alguns deputados municipais, por convicção não assumida publicamente ou por mesquinha vingança vetassem o nome de alguém que sempre serviu Sesimbra de espírito aberto e alheio a querelas político-partidárias”, Augusto tende a esquecer certas coisas, e o seu olvido talvez se possa explicar pela notória confusão de papéis – o de cronista do RAIO DE LUZ e o de Presidente da Câmara – em que se deixou enredar.
Primeiro: não fica bem ao Presidente da Câmara pôr-se a adivinhar o que perpassou a mente daqueles autarcas, imputando-lhes motivações presumidas, mas não comprovadas. Augusto deve, de uma vez por todas, compreender que, ao invés do que sucede no seu partido, a regra na designação de pessoas é a do voto secreto. E não pode presumir que detém a verdade absoluta sobre a impecabilidade de Aurélio. Segundo: os deputados municipais só têm de prestar contas das suas putativas perfídias e infâmias aos munícipes que os elegeram. Na sua legitimidade – que é tal qual a de Augusto – está também a sua liberdade. Terceiro: o Presidente da Câmara deve respeito à Assembleia Municipal e tem de começar a perceber, quanto antes, que os eleitores, mesmo que sem razão, têm a razão da força. Para o bem e para o mal, a democracia é assim, e Augusto tem de se habituar. De uma vez por todas.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O "Lobo do Mar"

Sinceramente, não sei o que se passa com o restaurante "Lobo do Mar", no porto de abrigo.

Julgo ter havido uma derrocada da rocha junto à qual está, há uma eternidade, construído.

E sei que me faz muita falta, pelo belo peixe, pela facilidade de estacionamento e pela simpatia da Amélia, do Luís, do Bernardo, do Fernando, daquela tropa toda.

É um Lobo pelo qual devemos chamar, é um cartaz turístico de Sesimbra, é um salva-vidas de quem anda perdido à procura de peixe fresco grelhado com simpatia e amizade.

Aqui deixo o meu SOS, salvem o soce, ande memo ogado por chaputa frita...

Muita areia

Tem sido uma mina para as televisões a lenta agonia (não a do jornal "O Sesimbrense", mas a) da arriba na Costa da Caparica.

Ao ver as camionetas a carregar para o local incontáveis toneladas de areia, não posso deixar de lembrar a ingenuidade dos meninos que, na borda d'água, fazem uma cova para, depois, agarrarem no balde e fazerem viagens sem fim, tentando vazar o mar no buraco.

Travar o oceano na Caparica é combate antecipadamente perdido.

A grande questão reside na irresponsabilidade das autarquias deste país que, por ganância, ignorância ou outras mais sórdidas razões, permitem construções em leitos secos de rios e ribeiros ou demasiado próximo do mar.

Neste momento, em vez de andarem a tentar tapar o sol com uma peneira ou conter o mar com areia que ele engole em dois tempos, melhor seria que olhassem para todas as Caparicas deste país à beira mar aldrabado...

PS : Alguém viu, nas redondezas, a senhora presidente da Câmara de Almada?

O aborto do referendo

Vamos lá por partes.

Se o Governo decidiu fazer um referendo sobre o aborto, não é com o desejo de deixar tudo como está.
Obviamente, o executivo de Sócrates quer a vitória do SIM.

Nesse caso, para os partidários do NÃO, a melhor estratégia seria limitarem-se a promover a abstenção, inspirando-se na sabedoria de Pilatos.

A abstenção é uma medida cómoda, evita o dilema, dispensa a tomada de tão melindrosa decisão, alivia a consciência e poupa a maçada da ida às urnas.

No meu caso (voto no Liceu Pedro Nunes), ainda me permite economizar os cêntimos que me reclamam os infalíveis bombeiros que me surgem ao caminho, de capacete na mão.

Resumindo, quem quiser esvaziar de significado o referendo sobre o aborto, o melhor é fazer abortar o referendo.

Ao que consta, o aborto é coisa sórdida feita num vão de escada.
Então, num vão votar...

Nada a fazer

Não há volta a dar-lhe. A questão do aborto põe-me circunstancialmente ao lado de criaturas que abomino, e opõe-me a pessoas que estimo ou de quem sou amigo. A vida tem destas coisas.

Ecologia

O leitor amigo voltou a deixar-me uma mensagem na caixa de correio electrónico. Desta vez, a prosa foi sobre a minha segunda entrada de ontem, relativa ao artigo publicado pelo Professor Jorge Miranda no PÚBLICO do sábado passado. Aqui deixo um novo excerto:

“A posição de Jorge Miranda suscita-me outra questão, de alguma sorte análoga. Curioso será observar o silêncio (quando não a militância pelo SIM) dos ecologistas – e em especial do partido dito ecologista – nesta matéria da despenalização ou da liberalização do aborto. Ninguém discute que a concepção e a gestação são fenómenos naturais. Não por acaso, a terra é a mater, o arquétipo. A esta luz, interromper, sem mais, uma gravidez é mais grave ou menos grave do que abater um sobreiro? A barriga é dela? Ora sebo, a terra também é minha!”

domingo, 21 de janeiro de 2007

Uma boa pergunta

Acabei de ler um artigo do Professor Jorge Miranda contra a liberalização do aborto, que vem na edição de ontem do PÚBLICO. Concordo, ponto por ponto, com os argumentos jurídicos que ali são aduzidos, sabendo, no entanto, que, como em nenhuma outra questão, a doutrina se divide. Mas, do meu ponto de vista, o contributo mais singular deste escrito firmado pelo publicista da Faculdade de Direito de Lisboa será talvez de ordem política, ao pôr a nu a falência da esquerda que se decide pelo SIM. Jorge Miranda revela absoluta lucidez quando, fazendo ecoar a minha perplexidade, interroga o leitor: “E a atitude da esquerda e do progresso não deve ser a de transformação da realidade, e não uma atitude de resignação e aceitação?

A lenta agonia de "O Sesimbrense"

Pouco tempo depois de, no ano passado, o Dr. Sequerra ter sido refreado nos seus devaneios de plumitivo, ficando confinado ao amanho sensato da página desportiva de “O Sesimbrense”, este quinzenário passou a ter uma edição electrónica na Internet. A ideia era boa e a sua concretização traduziu, por certo, algum esforço, notável e meritório, da parte da nova directora do jornal mais antigo da terra, Dr.ª Isabel Peneque. Só foi pena que o novel portal quase se tenha limitado a facultar uma versão em linha da edição impressa da folha octogenária. Digo isto porque teria sido interessante optar por uma página em que as notícias fossem sendo dadas com actualidade, uma página que respirasse ao ritmo com que os acontecimentos pulsam no teatro da vida. Acredito que, então, tal não fosse fácil. Como acredito que, nas actuais condições de “O Sesimbrense”, isso não seja ainda possível.
Não obstante, há coisas boas na versão on-line. Uma delas é o arquivo, onde se encontram todas as edições anteriormente postas na rede, desde 15 de Agosto de 2006. Obedecendo a uma orientação íntima de origem indeterminada, fui reler os correspondentes editoriais, da autoria da Dr.ª Peneque. Confesso que fiquei banzado. Raramente estes seus escritos se referem a Sesimbra; ao invés, são quase sempre dedicados a temáticas de índole nacional, que a autora aborda com oscilável candura. Com excepção de uma referência ao peixe-espada e de alguma outra alusão furtiva a Sesimbra e suas gentes, debalde poderá o leitor esperar alguma menção a situações locais. Aos dirigentes autárquicos, nem elogios, nem reparos, nem críticas. Nada.
Com o afastamento do Dr. Sequerra, manda a verdade dizer que “O Sesimbrense” mudou muito, pois deixou de ser elaborado de acordo com as leis do delírio, que, sendo aceitáveis na arte poética de um André Breton ou de um Mário Cesariny, dificilmente se revelam prestáveis na redacção de um pacato jornal de província. O problema que agora emerge é o de a publicação se ter tornado ainda mais baça e bisonha, sendo hoje um jornal sem chama e sem alma.
O noticiário é passivo e continua dependente das notas de imprensa camarárias para nos poder dizer que veio gente de diversas partes do país, com o fito de assistir ao fogo de artifício da passagem do ano, e que este consistiu em 10821 disparos. Pergunto-me se as luminárias da Câmara terão instalado uma portagem no Marco do Grilo e uma barreira no Alto das Vinhas para recensearem a proveniência provincial dos magotes de mirones que tinham por causa final o sortilégio pirotécnico.
Já no domínio da opinião, “O Sesimbrense” quase se resume a um ou outro putativo senador concelhio ou às afirmações banais de nomes irrelevantes.
Disse há pouco que “O Sesimbrense” era um jornal sem alma, mas talvez tenha pecado por excesso. Aristóteles, o mestre daqueles que sabem, ensinava que a alma humana se dividia em três partes. Específica do homem seria a alma racional. Partilhada apenas com os animais, a alma sensitiva. Extensível às flores, às plantas e às árvores, a alma vegetativa. A verdade é que, na sua existência, “O Sesimbrense” ainda vegeta. Mas não vai além de um molho de bróculos.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Cândidas criaturas

Os nossos juízes são verdadeiros meninos de coro, tão puros que, na altura, não perceberam que a "fruta" e o "café com leite" das conversas de Pinto da Costa se referiam a prostitutas para os árbitros.

Coitadinhos, tão puros e inocentes que são os nossos juízes! Foi preciso vir agora essa desavergonhada da Carolina Salgado para resolver o mistério descodificando a linguagem hermética.

Naturalmente, não podemos duvidar da boa fé nem da isenção dos meritíssimos senhores.
Só gostaríamos que eles fossem menos ingénuos, que saíssem de vez em quando das suas torres de marfim, que fossem ao mercado do Bolhão ou à Ribeira para ouvirem o povo, para aprenderem o duplo sentido de certas palavras.

Claro, a educação esmerada que todos tiveram manteve-os longe do calão, das piadas grosseiras, das bocas foleiras, dos trocadilhos marotos.

Portanto, nada mais natural que Suas Excelências ignorassem que a fruta era outra.
Imagino as boquinhas abertas de espanto e de incompreensão quando aquela descaradona apareceu com o livro na mão, o novo código Da Vinci, o livre-trânsito para o universo de pouca vergonha que todo a gente conhecia.

Toda, não. Toda menos os nossos doutos juízes...

Eusébio

A sorte do melhor futebolista de sempre, Eusébio Ferreira da Silva, é já estar reformado.

Imaginem: se o nosso Eusébio ainda estivesse no activo, ao envergar o novo equipamento alternativo, passaria a ser designado pela pantera cor-de-rosa...

O nome da rosa

Os jogadores do Benfica sempre tiveram como imagens de marca a raça, a alma, o brio, o nervo e a bravura, razão pela qual surpreende a escolha dos seus responsáveis para a cor do equipamento alternativo.

Tempo houve em que o branco era, para a generalidade das equipas, o equipamento alternativo.

Porém, vá lá saber-se porquê, a partir de certa altura começaram a surgir as fantasias, cinzento prateado, amarelo, o diabo a sete.

O Sporting sempre teve um segundo equipamento bonito, com o recorte e as cores antigas. Agora renderam-se ao amarelo, ao ponto de as camisolas verde-brancas se terem, na prática, tornado o equipamento alternativo. Simplesmente lamentável.

Pois as antigas "papoilas saltitantes" tornadas célebres pelo Luís Pissarra vão dar lugar a um alternativo cor-de-rosa, opção que pode sugerir a certos espíritos malévolos que alguma virilidade esteja a estiolar para as bandas da Luz.

A imprensa cor-de-rosa sabemos o que é. A pantera cor-de-rosa é um felino ondulante e requintado. Mas uma águia cor-de-rosa só pode ser coisa estranha, asim a modos que uma arara com madeixas.

E os bravos jogadores do Benfica arriscam-se a que lhes chamem algum nome feio, o nome da rosa...

Sobe, sobe, balão, sobe...

Convido os leitores a um exercício. Peço-lhes que observem com atenção a capa do último número de “O Sesimbrense”. Traz apenas o editorial do jornal e duas notícias, profusamente ilustradas, sobre a passagem do ano e sobre a celebração camarária do Dia de Reis. Será que, nas últimas semanas, nada mais aconteceu no concelho que justifique uma chamada de primeira página no jornal fundado por Abel Gomes Pólvora? Será isto, Sesimbra? Uma terra feliz e sempre em festa, a deitar foguetes sem apanhar as canas? Quanto custou este foguetório? Quanto é que a gestão comunista já gastou em pirotecnia desde que tomou posse? Algo me diz que os números não devem andar longe dos cem mil euros (vinte mil contos em português vernáculo). Ah, é verdade, vem aí o Carnaval e as entrevistas com os responsáveis das escolas de samba já aterraram nas laudas do quinzenário…

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Monstruosidade

Um juiz decretou que uma criança de cinco anos seja arrancada aos pais com quem vive desde os três meses para ser entregue a um indivíduo que, aos olhos da lei, é considerado como pai biológico.

Não sei quem é este juiz, mas seria bom que o País pudesse conhecê-lo, ver a sua cara, olhá-lo nos olhos, perguntar-lhe como pôde ditar tão monstruosa sentença.

Os nossos juízes possuem um poder absoluto, excessivo, abusivo, mesmo.
E são intocáveis.

Mas tão absurdos como a sentença são os direitos que a lei confere aos pais biológicos.
No caso em apreço, o "pai" talvez seja biológico, mas, na realidade, é apenas um dos vários indivíduos que tiveram relações com a mulher que viria a ser mãe da menina.

Ora, a verdade é que aquele homem nunca desejou ser pai, apenas se limitou a ir para a cama, ocasionalmente, com aquela mulher. Como terá ido com outras. Como ela foi com outros.

Serão uns minutos de sexo suficientes para fazerem dele um PAI ?

Esta é, talvez, a grande questão...

Concurso de ideias

O último número de “O Sesimbrense” traz informes preciosos. Pela leitura deste quinzenário ficamos a saber que no primeiro sábado de Janeiro, dia seis, dia de Reis, os alunos da catequese da Paróquia de Santiago foram cantar ao Largo 5 de Outubro, em Sesimbra. Entre outras melodias, ali brindaram a vereação municipal com um “Rap dos Reis Magos”. Uma semana depois, a 13, realizou-se um recital de bossa nova na Capela do Espírito Santo, que, por acaso, alberga um museu de arte sacra, onde se expõem pinturas e esculturas de natureza devocional. Tamanha criatividade é sempre de aplaudir. A propósito: alguém tem sugestões para o próximo sábado?

Fantochada

Em França, e na perspectiva da próxima eleição presidencial, uma sondagem dá conta que 50% dos eleitores serão fortemente influenciados na sua decisão pela emissão "Les Guignols de l'Info", ou seja, os fantoches ou as marionetas da Informação, o equivalente da nossa igualmente excelente "Contra Informação".

Esta percentagem atinge os 65% no tocante aos jovens e diz bem da capacidade de penetração de uma emissão de televisão inteligente que descodifica e traz uma luz diferente (e muitas vezes mais real) ao discurso redondo, à conversa fiada e à demagogia dos diversos intervenientes no espectro alargado da política, do desporto, da vida social ou das artes.

É, sem dúvida, um tema a merecer reflexão. Qual é a realidade? É o que os próprios anunciam ou o que se esconde entre fórmulas trabalhadas e habilidosas? Como devemos olhar para as promessas? Quem são os nossos modelos? Há sinceridade nisto?

Quando vemos um Pinto da Costa entre os os 100 maiores Portugueses, é a prova provada de que somos mesmo um país de "guignols"...

Assim é que é

Segundo revelam investigadores da Faculdade da Saúde da Universidade de Harvard, Massachusetts, em 7 anos, a quantidade de nicotina contida nos cigarros aumentou 11 por cento.

Na minha douta opinião, trata-se de uma boa notícia, por duas razões.
Primeiro, porque estamos perante um aumento que se situou abaixo da inflação média anual, ao contrário do que acontece por cá com os transportes, a electricidade, o gás, etc..

Depois, por ser evidente que estamos em presença de gente séria, estas solícitas tabaqueiras que, por um lado, aumentam regularmente os preços, é verdade, mas, por outro, também vão aumentando progressivamente a taxa de veneno que nós compramos.

Ao passo que os Governos obrigam a grandes alertas contra os malefícios do tabaco, mas não só permitem a venda como a enrolam em impostos igualmente crescentes.

É o fumo da hipocrisia a elevar-se no céu dos pardais...

O segredo do cântaro

O senhor Procurador Geral da República disse (mais coisa, menos coisa) que a violação do segredo de Justiça não tem remédio, é inevitável.

Se esta convicção tivesse sido expressa por um anónimo, no café, não teria a menor relevância nem causaria qualquer admiração.
Agora, na boca do Procurador Geral, dá que pensar.

Eu percebo que não se possa ter um polícia atrás de cada funcionário que lida com os processos. Por isso, admito que não se possa atacar eficazmente o problema na fonte.
Porém, nada impede que o façam na foz, ou seja, no final do percurso.
Se não, vejamos.

Nós só sabemos que houve violação do segredo de Justiça quando um órgão de comunicação social o revela ao grande público. Assim sendo, por que motivo não obrigam o responsável pela divulgação a revelar a sua fonte? Liberdade de Imprensa? Uma ova, meus senhores, uma ova.

O jornalista sabe perfeitamente que está a cometer uma ilegalidade. E não venham com a conversa fiada de se tratar de "interesse público". O seu único interesse é a sensação, o escândalo que lhe trará mais audiência ou jornais vendidos.

No fundo, a mesma coisa se passa com os larápios e os receptadores.
A polícia não pode estar atrás de cada ladrão, mas sabe muito bem a quem eles vão vender os artigos roubados.
Já que não podem estar na fonte, então que vão à foz, ou seja, à loja discreta do receptador.
Poderá então acontecer que este faça como o jornalista e responda que não é obrigado a revelar as suas fontes.

Por este andar, os árbitros também poderão admitir que receberam dinheiro, mas recusarem revelar a fonte. De facto, isto não é a república das bananas, mas dos bananas.

E a verdade é que este cântaro (da hipocrisia e das garantias e direitos injustificados) está farto de ir à fonte e ninguém tem coragem para o partir.

Não haverá por aí um quebra-bilhas?

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Os fósforos

Almoçar em Beja tem que se lhe diga. Pode, por exemplo, não haver um único fósforo em todo o estabelecimento para acender o bico do fogão e pôr as fêveras ao lume. Aconteceu hoje. E logo comigo, que deixei de fumar há mais de dez anos.

À moda de Sesimbra

Na minha ronda de distribuição do correio, calhou-me hoje ir entregando o jornal "O Sesimbrense" e não pude deixar de deitar um olho à primeira e última páginas, iniciativa que me permitiu aprender alguma coisa sobre o Grupo Olodum Tripa Cagueira.

Não tenho a pretensão de ser árbitro de elegâncias nem de possuir o monopólio do bom gosto, apenas confesso a minha perplexidade perante a designação que foi escolhida (e mantida com surpreendente orgulho) por esta Associação.

E, como se uma não bastasse, ficamos a saber (nós, os incautos ignorantes) que, além da inefável Tripa Cagueira, existe a Tripa Mijona que é só para mulheres e que constitui "o primeiro e único grupo feminino em Portugal", benza-o Deus.

A delicada Tripa Mijona "tem vindo a brincar ao Carnaval, mostrando que as mulheres também são capazes de fazer o mesmo que os homens, tendo como base a defesa dos direitos da Mulher".

Resumindo, Tripa Cagueira só para homens e Tripa Mijona só para mulheres.
Simples, esclarecedor e fino, não é?

É o que se pode chamar uma Associação perfumada. Com Tripas à moda de Sesimbra...

Quem avisa...

Esta manhã, ao sair de casa, verifiquei que em todas as caixas de correio tinham sido enfiados folhetos de um movimento pelo NÃO ao aborto.

Ora, em quase todas as caixas, há um autocolante de recusa de publicidade, sendo portanto evidente que este movimento não respeita a liberdade alheia.

É possível que, hoje ainda ou amanhã, outro movimento de sentido oposto cometa o mesmo abuso, mas desde já fica o aviso para todos: isto é um mau prenúncio.

Minhas senhoras e meus senhores, asSIM, NÃO.

SIM, SIM, SIM

Este Governo, afinal, ainda é capaz de surpresas simpáticas, digam lá.

Soube-se agora que, para a declaração do IRS deste ano, a benévola Direcção Geral das Contribuições e Impostos lembrou-se, teve um gesto, uma pequena atenção para os inúmeros trabalhadores por conta de outrem, ao dispensá-los da incómoda tarefa de declararem todas as compras de imóveis por um montante superior a 250.000 euros ou de viaturas por mais de 50.000 euros.
Quem é amigo, quem é?

O engraçado é que a DGCI reconhece tratar-se de uma falha técnica dos serviços, o que talvez (quem sabe?) esteja na origem da saída do super Director-Geral que ganhava um super ordenado.

Mais engraçado é que a declaração destas manifestações de fortuna era considerada uma arma importante no combate à fuga e à evasão fiscal.

Os ricos, mesmo os mais recentes (os que pagam tudo com dinheiro trazido em montes de sacos) sentem-se frustrados por não poderem exibir uma folha de IRS com os seus sinais de riqueza bem patentes.

Assim, limitam-se a mostrar os jipes de alta cilindrada, as mansões luxuosas e os barcos de recreio, coitados.

Eufóricos estão os trabalhadores por conta de outrem que agora têm a oportunidade de fazer grandes compras e manter a aparência modesta, discreta e apagada a que nos habituaram.

Não me perguntaram, mas, se perguntassem, eu diria SIM a esta interrupção voluntária da ostentação...

Venha o diabo

O Diário de Notícias lança hoje um amplo olhar sobre cinco dos nove concelhos da península de Setúbal, a saber, Almada, Seixal, Barreiro, Alcochete e Montijo.

Sesimbra ficou de fora. Surpresa? Nem por isso.

Além da construção avassaladora, que há para mostrar?

Os mil rostos pendurados na fortaleza, antecipando os foleiros bonecos do Pai Natal ?

As recepções de comes-e-bebes da doutora Felícia?

O inacreditável concurso do Dia das Mentiras?

A elegantíssima escola de samba "Tripa Cagueira"?

Venha o diabo e escolha porque o DN não escolheu...

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

SIMeNON

- Então, já decidiste?

- Olha, por sim por não, vou votar.

- É certo então que votas?

- Sim, voto.

- Sim, votas ou votas sim?

- Voto, sim, senhor, mas nu não.

- Não votas no não? Então votas sim.

- Não, não voto sim, mas nu não vou votar.

- Por que não?

- Porque está frio.

- Mas, afinal, votas SIM ou NÃO.

- Ainda não sei, mas talvez não vote NÃO.

- Por que não ?

- Porque sim.

Castafiore

Quem tem a faculdade de compreender a língua francesa, pode, com frequência, assistir a múltiplos debates sobre questões variadas de actualidade política, social, cultural, com a participação animada de gente indiscutivelmente entendida e a moderação de jornalistas de qualidade.

Em Portugal, a única emissão com características aproximadas, o "Prós e Contras", foi considerada pela Associação de Telespectadores a melhor do ano 2006, o que revela a pobreza franciscana da nossa televisão.

Com efeito, se a intenção é boa, o formato é péssimo, com os participantes colocados frente a frente, em verdadeiras trincheiras, em vez de estarem à volta de uma mesma mesa ou sentados, tranquilamente, uns perto dos outros, num clima confortável e natural, descontraído.

Por seu lado, o público parece estar no circo romano e só falta virar o polegar para baixo quando instado pela sacerdotisa Fátima Campos Ferreira, autêntico "gendarme" de serviço, de voz estentórea, tagarela, autêntica Castafiore que interrompe em demasia, formula juízos e faz perguntas intermináveis, assumindo um protagonismo que deveria pertencer aos convidados.

Por estas e (muitas) outras, percebemos que o nosso atraso em relação à Europa da frente não reside apenas no PIB...

Sobre o aborto

1. Um dos principais argumentos – senão o principal – dos defensores do SIM no referendo sobre a despenalização do aborto tem a ver com as possíveis consequências penais, para a mulher, do acto de abortar.

2. A ênfase surge dramaticamente posta na eventual sujeição da mulher que aborta a uma pena de prisão. Veja-se o recente cartaz do Partido Socialista.

3. Ora isto representa um salto lógico, tão evidente quanto ilegítimo, na discussão do problema.

4. Só faz sentido discutir o mérito da pena depois de se avaliar a natureza do crime. Parece ser isto que os defensores do SIM pretendem evitar.

5. Ninguém discute que o aborto é um mal, que põe em causa um bem jurídico fundamental.

6. Na verdade, ainda que o SIM vença, e o Código Penal seja alterado, o aborto continuará sempre a ser um crime (presumivelmente praticado em condições clandestinas) para além das dez semanas de gestação.

7. Não há qualquer fundamento válido que justifique a interrupção, de forma livre, da gravidez. A gravidez indesejada tende a ser, nas actuais condições, uma situação quase fortuita. Mas, se o SIM vencer, antevêem-se lícitos abortos selectivos, quando os pais não acertarem com o sexo da criança. Alguém duvida?

8. O argumento do pretenso direito da mulher ao seu corpo, ou sobre o seu corpo, destapa a caixa de Pandora e abre a porta a inúmeras reivindicações. Talvez a imaginação não consinta limites…

9. O que mais surpreende é o acento afectivo posto na condição feminina. Os defensores do SIM, esgrimindo até à náusea, como suposto argumento, a humilhação de as mulheres serem sujeitas a um julgamento, acabam por lhes negar a dignidade social que é própria de toda e qualquer pessoa livre e responsável.

10. Outro argumento que surpreende é o facto de a disposição penal que proíbe o aborto não ser cumprida. Isso, porventura, é argumento? Lá porque diariamente se mata, ou rouba, ou se foge aos impostos, ninguém, por certo, pensa em suprimir, da lei penal, as correspondentes proibições.
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E. T. - No blogue Se Zimbra, em sentido diferente, foi publicada uma outra entrada sobre este assunto.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Contas na Suíça

O cantor (há quem goste) Johnny Hallyday anunciou, no final do ano passado, que tencionava mudar-se para a Suíça, como forma de beneficiar de um regime fiscal mais suave.

Acontece que os 26 cantões da Confederação Helvética possuem total independência em matéria fiscal e rivalizam entre si, concedendo benesses aos estrangeiros ricos, prática que está a despertar controvérsia porque, por exemplo, o tenista Roger Federer, multimilionário, não goza desses provilégios, por ser suíço. Voilà!
Razão teve o nosso Governo ao elaborar a nova lei das finanças locais que vai permitir às autarquias boa margem de manobra, no tocante ao IRS.

Assim, talvez não fosse má ideia os autarcas deste país entrarem, sem demora, em contacto com o Johnny, o Federer e outros ricaços, propondo-lhes que se mudem com armas e bagagens para cá.

Sesimbra? Desculpa, Johnny, não dá. Tomara o Augusto que lhe tragam algum, aquelas finanças estão nas lonas...

Aos montes...

O bispo de Bragança, D. António Moreira Montes, colocou o aborto no mesmo plano da pena de morte, ao aludir à execução de Saddam Hussein.

É a Igreja no seu melhor, delicadeza, bom gosto, tolerância, abertura de espírito, modernidade.
Aos montes.

O movimento pelo SIM agradece.

Por causa do Honório

Os doutoramentos "Honoris Causa" estão a tornar-se tão banais como os mestrados em Dó Maior ou as licenciaturas em Relações Internacionais.

Agora foi Cavaco a receber tal distinção (?), concedida pela Universidade de Goa.
A curiosidade é o doutoramento contemplar a Literatura.

Mário Soares é que deve dar urros, depois de tanto ter gritado que "ele", o Cavaco, pouco menos é do que analfabeto.

As voltas que o Mundo dá, Doutor em Literatura um homem que nem os jornais lia...

A ratoeira

Junto à praia do Moinho de Baixo existem dois restaurantes muito agradáveis, com uma vista deslumbrante para aquele mar bravo e belo, sendo esta localização excepcional o lado positivo.
Porém, ambos sofrem com a ingrata circunstância de estarem no fim da linha, no fim da estrada, no sítio onde a terra acaba e o mar começa.

Para aquele funil convergem todos quantos (vindo de carro e mota) se dirigem à praia e/ou aos restaurantes, sem que haja um parque PÚBLICO e GRATUITO em condições.

Em tempos, era possível estacionar, lateralmente, na estrada. Contudo, a Câmara (suponho) logo se apressou a colocar blocos de cimento no eixo da via, não deixando aos automobilistas outra solução que não seja a dos parques de estacionamento que privados exploram alegre e proveitosamente.

Chama-se a isto EXPLORAÇÃO, porque não se concede ao visitante qualquer alternativa razoável.

E, agora de Inverno, é ainda mais revoltante assistir a esta caça ao euro (e meio).
Atento e autoritário, o pelouro do trânsito da nossa adorável Câmara não deixou de lá colocar múltiplas placas a proibir o estacionamento e a ameaçar com reboque.

Chama-se a isto fomentar o Turismo, receber os visitantes de braços abertos.
Só falta colocarem uma portagem junto ao Peralta.

Esta forma de actuar é execrável, ficando ainda no ar um conjunto de dúvidas quanto ao enquadramento legal do funcionamento daqueles parques improvisados e à existência de controlo fiscal das receitas.

A sensação que nos fica é a de sermos apanhados numa ratoeira onde, em vez de um serviço, o que nos surge pela frente é uma daquelas propostas que não podemos recusar...

Pressão alta

Excerto de mensagem deixada por leitor amigo na minha caixa de correio electrónico:

“O meu caro escriba, desculpe que lhe diga, quando, no sábado, se referiu à declaração de amor cavaquista do ministro Alberto Costa, não viu bem a coisa. É que depois das grandes esperanças natalícias de Charles “Sócrates” Dickens e do pedido ano-novesco de resultados feito pelo mais alto magistrado da Nação, trata-se simplesmente, como agora se diz no futebol, de “jogar em pressão alta”. Se as reformas em curso vierem a falhar (e nós sabemos que será assim), a culpa não recairá sobre os inspirados, mas sobre a musa inspiradora. E se a musa insistir na emenda, não há senão que recordar-lhe quem deu o mote para o soneto. Ou ler-lhe a Utopia de Thomas Mann."

domingo, 14 de janeiro de 2007

Os + = do costume

Segundo revelou a SIC, na mesma fornada do Luisão foram mais uns quantos automobilistas, um deles actor, outro serralheiro.
Feitas as apresentações, concedidos os autógrafos, trocadas as larachas, o actor e o futebolista saíram com a carta de condução no bolso.
O pobre do serralheiro (com menos álcool do que o senhor Luisão), ficou com a carta apreendida.
Espanto? Nem por isso, estamos em Portugal, país onde uns continuam a ser mais iguais que outros.
Perante isto, apenas me ocorre perguntar:
- Alguém acredita que, no Apito Dourado e na Casa Pia, não se safem os mais iguais do costume?

sábado, 13 de janeiro de 2007

Branco é...

Segundo a edição de hoje do EXPRESSO, o Ministro da Justiça garante que se inspirou no “ímpeto reformista” de Cavaco Silva ao avançar com a redução das férias judiciais. Perante uma medida tão populista, demagógica e inútil, estava-se mesmo a ver de que jaez seria a musa de Alberto Costa. O gáudio depositado nestas suas palavras é que acaba por nos surpreender. Quem disse que a confissão era a rainha das atenuantes?!

Branco ?!!

Afinal, a vida ( como a bola) dá muitas voltas, e aí temos Luisão, o garboso central do Benfica, a ser vítima de verdadeira segregação racial.

Primeiro, parece que o delicado mocetão foi gozado na esquadra por polícias sportinguistas. Não se faz, não é bonito, aqui deixo o meu veemente protesto.

Mas o pior (e daí o cunho racista da situação), foi o interrogatório. O enviado especial da Magra Carta, presente no local, ouviu distintamente o seguinte diálogo:

- Ó meu, então andaste na farra? Foste prós copos? Lembras-te do campeonato que roubaste ao Sporting quando te amandaste pra cima do Ricardo?
- Eu só disputei a bola, sô guarda...
- Agente, meu, agente da autoridade! Ouve lá, bebeste muitos copos?
- Alguns, sor agente, alguns...
- Tinto ou branco?
- Branco, sor agente, branco. Nos bares, todo o mundo sabe, Luisão é branco.

Aí o agente da autoridade perdeu o controlo e descarregou a fúria num velho sofá.

- Branco?!! Luisão é branco?!! Mas este gajo está a gozar c'a gente?

O nosso repórter saiu nessa altura para satisfazer uma necessidade fisiológica, não tendo, por isso, visto o que se seguiu.

Mas pode testemunhar que o incidente de contornos raciais teve por origem uma inegável provocação do jogador do Benfica.

Se a Dona Maria José Morgado precisar de testemunhas, ela sabe onde moramos...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Ó Luisão, olhó balão!


O jogador Luisão, do Benfica, foi convidado, madrugada alta, pela Polícia a soprar no balão.
O resultado foi devastador: uma taxa de alcoolemia de 1,44.
O juiz, perante o qual compareceu, condenou o jogador a uma pena de quarenta horas de trabalho comunitário, pelo que talvez venhamos a encontrar o gigante encarnado a cortar relva num jardim perto de nossa casa ou a ajudar velhinhas a atravessar a rua.

Será que aquele nível de álcool pode ser considerado doping?

Black is Black

Os coitados dos ingleses devem estar mordidos de inveja por terem apenas uma Primeira Liga quando a nossa é Super, qualificativo aliás justíssimo, tendo em conta o alto nível da nossa competição quando comparada com a modesta e pobre congénere britânica.

Mas estas coisas são próprias do futebol que é o reino da encenação, da maquilhagem e da hipocrisia.

A mais recente moda é o da luta contra o racismo nos estádios. O cenário é sempre o mesmo: alguém, um adepto anónimo, no peão, tribuna ou bancada, chama um nome feio a um jogador de raça negra.
E logo caem o Carmo, a Trindade, o Terceiro Anel e a torre de iluminação do topo norte.

O árbitro, compreensivelmente escandalizado, interrompe o jogo. Os dirigentes bufam de indignação, os colegas consolam a transtornada vítima, adequadamente lavada em lágrimas, uma onda de horror varre o estádio, autêntica "hola" de repúdio, todos unidos contra a hedionda atitude.
Nos enormes écrans surgem, imediata e oportunamente, palavras de ordem contra o racismo, corações ao alto, a cruzada está ao rubro.

Ora, o mesmo e muitos outros espectadores, chamam filho da puta, cabrão, paneleiro, etc. a todos os jogadores de raça branca e isso não suscita a menor reacção por parte do Sindicato dos Filhos de Puta, do Grémio dos Cornudos ou do "Orgulho Gay".

Francamente, andam, no mínimo, a brincar connosco. Fica bem, é bonito ser anti-racista, é o que está a dar.
Entre nós, há pouco tempo, foi acusado de racismo um dirigente que designou um jogador do Benfica por "grego". Querem ver que o homem é japonês? E um que nasceu no Rio de Janeiro não será brasileiro?

Chamar "preto" a um indivíduo de raça negra é apenas um erro. Preto é cor, ele é, simplesmente, negro. Mas esta palavra tem uma conotação pejorativa, pelo que é pouco usada.

O mal está em que os espectadores do futebol se achem no direito de insultar grosseira e alarvemente (a coberto do anonimato, diluídos na multidão) todos os intervenientes no espectáculo, sejam eles brancos, azuis ou amarelos.
Agora estes tiques de virgens ofendidas na sua sensibilidade rácica, é apenas folclore, novela pindérica para notas de rodapé nos telejornais pirosos da nossa televisão.

As coisas são o que são, e um jogador profissional, concentrado, com altos índices de confiança, larga margem de progressão, habituado a fazer pressão alto no último terço do campo e a cortar as linhas de passe, tem de estar preparado para ouvir insultos, palavrões e apupos.
É a regra do jogo.

Até porque, como cantavam "Los Bravos", nos anos sesssenta, "Black is Black"...

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Sem emenda

O presidende da República Francesa, Jacques Chirac, foi sempre um político determinado, ambicioso, mas nada hábil.
E, pelos vistos, nem com o tempo aprendeu.

Em declarações recentes, afirmou que a sua candidatura a um terceiro mandato é um assunto que merece reflexão da sua parte. E é isso que vai fazer, reflectir.

Quem conhece minimamente Chirac e o seu percurso, só pode sorrir perante tamanha falta de noção das realidades. Será que o homem acredita ter alguma hipótese? Será que ainda não percebeu que só foi eleito pela segunda vez por ter tido a sorte de defrontar, na 2ª volta, o candidato de extrema-direita, Le Pen?

O que se passa na mente dos Chiracs e Soares deste mundo que, em certos momentos, tomam os seus sonhos por realidades e, pateticamente, correm ao encontro de uma derrota que só eles não prevêem?

Não são sequer Quixotes perseguindo uma quimera. Pior que isso, são velhos senhores cegos pela vaidade, pela presunção e pela sede de poder.

Nessa febril e insensata empreitada, tentam convencer-se de que só eles são dignos da função e, quando é preciso, atropelam amigos e companheiros, Soares e Manuel Alegre, Chirac e Baladur.

Será que Madaíl volta a candidatar-se em Junho?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

EU FICO

Não é só o Paulo Portas, o nosso bem-amado Scolari já desfez as dúvidas.
Durante muito tempo, num comovente sinal de lealdade e de solidariedade, uniu o seu destino ao do inefável Madaíl, jurando que se manteria no cargo apenas com o amigo Gilberto na presidência da Federação.

Agora, talvez suspeitando de que, depois de Junho, Madaíl possa ir à vida, o desinteressado Scolari já rectificou o tiro, assegurando que, mesmo que o compadre saia, ele não abandona o tacho, perdão, o cargo de tão grande responsabilidade.

Pode o País dormir descansado, pode a presidência portuguesa da União Europeia começar sem angústia, o homem fica.

No fundo, foi a maneira ternurenta que o senhor Scolari encontrou para nos desejar um novo ano feliz. Foi a sua forma de nos cantar as janeiras.

Decididamente, estamos em maré de religiosidade...

Mundo Perfeito

Há muitos anos, em Fátima, deparei com uma lápide onde se podia ler um texto dirigido a Nossa Senhora. Era um entre muitos. A nota insólita é que se tratava de um banco que, daquela forma, agradecia os bons resultados do ano comercial. Inacreditável...

Hoje, ouvi na Rádio uma notícia segundo a qual o director-geral do serviço de Contribuições e Impostos (Fisco) manda celebrar, ao fim da tarde, uma missa para a qual convida todos os seus funcionários.
Não sei se a intenção é orar pela saúde, segurança de emprego e felicidade do pessoal ou agradecer ao Altíssimo os muitos milhões de euros que o Fisco tem conseguido cobrar.

Há dias, sublinhámos aqui a inesperada onda de religiosidade que inundou o Partido Comunista e que teve por expressão a entusiástica celebração do dia de Reis.

Agora é um organismo emblemático do sistema capitalista (reaccionário e imperialista, não é?) que revela igualmente uma espiritualidade inesperada.

Parece que as diferenças se esbatem, que os extremos se tocam e que os opostos se atraem. Afinal, já não há rapazes maus quando os engravatados ao serviço do grande capital vão à missa e os meninos de coro de capa vermelha cantam as janeiras.

Aleluia, aleluia, é o Mundo Perfeito!

Coerências

Se bem me lembro, há já alguns meses que o Cardeal Patriarca de Lisboa veio dizer que a interrupção voluntária da gravidez não era uma questão religiosa. Sem propriamente me surpreender, esta afirmação de D. José Policarpo não deixou de me inquietar, pois não consigo encontrar muitas questões em que a concepção religiosa, ou não, de vida que cada um perfilhe possa ganhar tanta relevância como na abordagem a este assunto, que concita a atenção geral.
Com alguma estupefacção, fico agora a saber, pela leitura do DIÁRIO DE NOTÍCIAS de hoje, que a Igreja Católica se mobiliza pelo “não” no referendo e que o Cardeal Patriarca vai publicar, em cada uma das próximas quatro semanas, até à realização do referendo do aborto, em 11 de Fevereiro próximo, um artigo na Voz da Verdade, o órgão oficial da diocese, para "ir formando e sensibilizando as consciências".
Séculos e séculos de repressão extremada da vida sexual levaram à progressiva desvalorização, por parte de Roma, da maternidade, e à preponderância do sacramento da ordenação sobre o sacramento do matrimónio. O resultado é o que se vê: uma atitude dúbia, uma abordagem calculista e um passo titubeante perante uma monstruosidade que se apresenta com evidente clareza a qualquer espírito religioso que se haja habituado a não confundir Deus com as igrejas e não tenha medo ou vergonha de pronunciar o seu nome.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Ali Bábá

Isto é fartar de rir. Veja-se só.
Valentim Loureiro escreveu uma carta ao Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol pedindo que lhe seja instaurado um processo baseado na acusação de corrupção desportiva (cá está ela) activa (olá) formulada pelo Ministério Público da Figueira da Foz.
Por outras palavra, o senhor major gostaria de ser julgado pela Justiça Desportiva.

Manifestamente, este desejo assenta numa premissa mais do que ingénua, ou seja, admite, sonha, imagina ou supõe o inocente major que há uma Justiça Desportiva, ou seja, no Desporto, melhor, no futebol.

Ora, ninguém melhor do que ele sabe que não há verdade nem justiça no nosso futebol.
Menos ainda Justiça. No futebol e em tantos outros domínios.

Valentim a ser julgado pela (suposta) Justiça Desportiva seria como Ali Bábá a responder perante os quarenta ladrões...

União de facto

A propósito do Apito Dourado e de outras embrulhadas em que o nosso futebol é fértil, ouve-se e lê-se por toda a parte a expressão "corrupção desportiva".
Ora, no meu fraco entender, o que estas bem intencionadas pessoas querem dizer é "corrupção no desporto", o que não é a mesma coisa.
É fácil perceber que seleccionador "português" não é, forçosamente, igual a seleccionador "de Portugal" que, por acaso, é brasileiro.

Os qualificativos de corrupção podem caracterizar a acção em si, mas não devem rotulá-la em função do ambiente em que ela ocorre.
Por isso, a corrupção pode ser discreta, descarada, frequente, organizada, pontual, recente, repetida, sistemática, tenebrosa, etc.

Mas não parece legítimo falar-se de corrupção desportiva, porque esta não é diferente, é apenas, puramente e só corrupção, sem que o universo desportivo lhe transmita cambiantes ou contornos específicos.

Da mesma forma, não será correcto falar de corrupção camarária, sindical, parlamentar, escolar, médica, industrial, bancária ou tabernal.
Corrupção há só uma que é o acto de corromper. Só variam o âmbito, o ambiente, os objectos, os montantes, as incidências, as consequências, etc.
E, sobretudo, os actores, uns passivos e outros activos, designações algo ambíguas que podem sugerir outros comportamentos que durante séculos foram condenados pela sociedade.

Esperemos que a liberalização dos costumes que acabou com o ostracismo e a perseguição
aos tais activos e passivos, não se estenda à corrupção, banalizando tal prática.

A verdade é que a forma como o Apito Dourado se tem arrastado, com arquivamentos, esquivas, recursos, adiamentos e assobios para o lado, chegou a dar a ideia de que entre o futebol e a corrupção haveria uma união de facto.

Só falta que lhes seja conferido o direito à adopção... de medidas aberta e chocantemente liberais.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Desígnios ?

Em Inglaterra, vão recomeçar as investigações relativas à morte da princesa Diana e do seu namorado Dodi al-Fayed.
As dúvidas subsistem, as paixões aindam não arrefeceram, os ódios não desapareceram e algumas pessoas interrogam-se sobre a utilidade dos debates públicos que estão para vir.

Talvez fosse tempo de deixar repousar em paz os mortos e permitir que os vivos sigam os seus caminhos sem este constante reabrir de feridas.

Não sei se o Esteves andou por Paris, mas o Lee Rodrigues está (julgo) preso em Inglaterra. Terão eles alguma coisa a ver com a morte da princesa do povo?

Por cá, o processo Camarate anda há mais de vinte anos a marcar passo e o da Casa Pia parece destinado às calendas gregas.
Será que estão à espera que a Morgadinha resolva o Apito Dourado para lhe entregarem Camarate?

Esta é uma forma ligeira de olhar para estes dois casos que causaram profunda consternação, por bem diferentes razões, nos dois países.

Numa outra perspectiva, também se pode observar que algumas pessoas têm percursos extraordinários, na vida e na morte.
De tal forma que desfechos tão violentos como estes surgem como que envoltos num manto de mistério e de tragédia que lhes confere uma dimensão que entra na esfera do Destino, da fatalidade reservada aos seres de excepção.

Talvez seja isso. Talvez sejam os desígnios dos deuses. Ou apenas a mão criminosa do homem. Vá lá saber-se...

Conúbios

O novo arcebispo católico de Varsóvia, monsenhor Stanislaw Wielgus, demitiu-se ontem, após ter reconhecido que colaborou com a antiga polícia secreta do regime comunista, extinto em 1989, noticia hoje o PÚBLICO. Já de si um povo-mártir, com memória na cabeça e vergonha na cara, os polacos sofreram a bom sofrer, durante décadas, as ignomínias da ditadura do proletariado, e parecem não tolerar agora quaisquer conúbios entre a Igreja Católica e o Partido Comunista. O Papa, que há poucos dias, presumivelmente mal informado, reiterava com prontidão a sua confiança em D. Stanislaw Wielgus, viu-se, assim, forçado a aceitar a resignação deste. Saberá Bento XVI o que se passa em Sesimbra?

domingo, 7 de janeiro de 2007

Da gaveta à janela

Não foi apenas o presidente da Câmara, Augusto Pólvora, a festejar com espalhafato o dia de Reis.
Também o secretário-geral do mesmo Partido Comunista meteu a ideologia na gaveta e não só cantou as janeiras como garganteou as "charolas", no Algarve, o mesmo Algarve que talvez não tenha ouvido a voz melodiosa de Cavaco Silva que, na tenra infância, em Boliqueime, fazia uma perninha, trauteando quadras neste dia festivo.

Rei não é o nosso Cavaco, apenas Presidente da República, mas sempre fiel à sua linha filosófica e partidária.

Já os nossos augustos camaradas, quando lhes convém, mandam os cânones às malvas e aproveitam todas as oportunidades para assomarem à janela.
De onde (porventura) a modernaça expressão "janela de oportunidade".

A janela, para o Augusto, é o modesto largo do jardim, sem holofotes nem câmaras (a não ser a sua) atrás.
Enquanto o super-camarada Jerónimo tinha honras de televisão, passagem nos telejornais, com uma tal falta de pudor que o pobre Marx deve ter dado voltas no gavetão de família, aquele onde repousam os seus irmãos, os Marx Brothers...

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

P. da Costa

Excelentíssimo Senhor Director,

Acaba de me chegar às mãos um exemplar do jornal "Diário Desportivo" que V.Exa tem a extrema bondade de distribuir aos quatro ventos, gratuita e generosamente.

Deste número inaugural não posso deixar de salientar o extenso anúncio a uma próxima entrevista com o presidente do FC Porto que surge reverenciosamente nomeado como Jorge Nuno Pinto da Costa.

Esta (aparentemente) pressurosa passadeira vermelha (será azul?) estendida aos pés do senhor Jorge Nuno talvez possa criar no espírito tortuoso de alguns entes malévolos certas dúvidas quanto à anunciada (in)dependência deste novo Diário que aposta em ser um jornal de mudança.

Por mim, crédulo e tolerante, só posso felicitar o "Diário Desportivo" por ter sido escolhido pelo mui nobre senhor Jorge Nuno P. da Costa que lhe deu a subida honra de uma entrevista "esclarecedora", ao longo da qual "não recusou responder a qualquer das perguntas". Admirável Jorge Nuno!

Já agora, se me é permitida a ousadia, Senhor Director, gostaria de saber se ao senhor Jorge Nuno terá sido perguntado qual o significado da letra P, na sua sigla tradicional P. da Costa.

Até há pouco tempo, ninguém tinha a menor dúvida de que o P era de Pinto, mas, depois das revelações da dona Carolina sobre as exuberantes e frequentes flatulências do senhor, há quem suspeite ter o P um outro menos bem cheiroso significado.

Fico aguardando ansiosamente a vibrante entrevista e aqui deixo exarados os meus protestos de alta estima e insuperável gratidão.

De V. Exa atento, venerando e obrigado,

Ildefonso Exotérico das Mercês

Na gaveta

Perante a anunciada e ambiciosa comemoração pública do Dia de Reis pela Câmara comunista do Arquitecto Augusto Pólvora, lembrei-me das considerações de Karl Marx sobre a religião. Este filósofo materialista e ateu considerava-a o ópio do povo e afirmava que ela existia para encobrir o verdadeiro estado de coisas numa sociedade, tornando os indivíduos mais receptivos ao controlo social e à exploração. Claro que nada disto deve ter passado pela cabeça do edil sesimbrense. A verdade é que, de ora avante, o marxismo está, irremediavelmente, na gaveta...

É de pequenino...

Os jovens (é a suave designação) que torturaram e provocaram a morte do travesti Gisberta na cidade do Porto, há alguns meses, acabaram por ser condenados a penas sentidas por toda a gente como demasiado leves.

O juiz, magnânimo, considerou a idade dos acusados como um factor determinante, filosofia que a Justiça francesa parece não adoptar.

Pelo contrário, inverte a ordem dos dados em equação, passando a julgar os delinquentes, em primeiro lugar e objectivamente, em função da natureza dos seus actos, sendo a idade apenas tomada como uma circunstância atenuante.

Quer isto dizer que se os "jovens" foram capazes de espancar e torturar Gisberta repetidamente, até lhe causarem a morte, deveriam ser punidos na proporção directa da gravidade dos crimes cometidos.

Há dias, nos arredores de Paris, três rapazes de 10 anos incendiaram uma ludoteca, crime que (para adultos) pode ser punido com dez anos de prisão.
A Justiça está a proceder a exames psiquiátricos para avaliar o grau de consciência e o sentido de responsabilidade dos menores, não havendo à partida a velha atitude permissiva de se lhes passar um rápido atestado de inimputabilidade.

É esta uma questão altamente delicada e que requer profunda reflexão. As crianças são cada vez mais precoces e adoptam rapidamente comportamentos de adultos, embora nem sempre tenham plena consciência da gravidade dos seus actos.

É verdade que jovem não é sinónimo de delinquente, mas inocência e candura também não se encontram forçosamente nas mochilas de todos os nossos meninos...

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Mind the gap

O que mais me impressionou em Londres foram as estações de metro à superfície da linha Picadilly, que liga o aeroporto de Heathrow ao centro da cidade. Têm placas que nos pedem para não alimentarmos os pombos, porque eles causam doenças. Esta hostilidade à Natureza, toda feita de força e de vontade, é bem o sinal dos tempos. Nasceu na Alemanha e singrou no mundo anglo-saxónico. Alastra como uma nódoa.
Mind the gap between the train and the platforms. É um aviso sonoro e constante no underground londrino. Entre nós, não tardou a ser adoptado, nas linhas suburbanas. Por enquanto, numa tradução polida, gentil, pouco imperativa. Mas, um dia destes, o altifalante ainda abandona as mordomias, e deita-se a vociferar o pregão no original. “Sem Inglês não há futuro”.

O ponto da situação

“Sem Inglês não há futuro”, dizia o prospecto, lido no cais de embarque do metropolitano de Lisboa.

Metáforas

A vida está difícil para os carteiros. A excepção é a quadra do Natal em que inúmeras crianças inocentes (ainda as há) escrevem ao Pai Natal, mas o resto do ano só traz para o nosso saco correspondência árida, facturas, avisos, linguagem comercial ou jurídica, nada de afectos, secura de sentimentos, uma tristeza infinita.
Regularmente, deito um olho, na esperança de encontrar alguma missiva no bom velho estilo "Querida Maria, estimo que esta te vá encontrar de boa saúde que nós por cá, graças a Deus, para mal nunca pior".
Mas não, nada, já ninguém escreve cartas de amor, de saudade, de tédio ou de mera divagação.
Fui, por sete vezes, ver "O carteiro de Pablo Neruda", pela música, pelos diálogos, pelo meu ingénuo colega e pelo soberbo Noiret a fazer de D. Pablo.
Não me canso da beleza da ilha, dos olhos da rapariga nem do deslumbramento do meu colega, pedalando encosta acima atrás das metáforas.
É daqueles filmes que nos fazem sonhar com um mundo que morreu, com um paraíso que só existe na tela do cinema e que se esfuma quando as luzes da realidade se acendem.
Cá fora, são os e-mails, os SMS, os telemóveis, conversa apressada, mensagens abreviadas.
As pessoas já pouco se encontram, falam à distância, já ninguém escreve ao coronel nem ao amigo que emigrou para o Canadá.

Já ninguém proporciona ao pobre carteiro a alegria de levar um pedaço de romance, um eco de melancolia, um apelo de compaixão, um soluço de solidão, um pulo de alegria, um gesto de simpatia, um anúncio de felicidade.
Já ninguém me dá o malicioso prazer de descobrir, no final da carta, um remate romântico como
" E basta saber que lhe escrevi para V.EXª compreender que não me é indiferente e que, bem pelo contrário, me é grato saber-me amada por V. Exª."

Melhor que isto só mesmo uma metáfora de Pablo Neruda...

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Feliz ano novo!

1. No Terreiro do Paço, um banco mui católico, todo entregue à obra do Senhor, cedeu aos encantos de protestantismo e ergueu a mais alta árvore de Natal do mundo.
2. Em Sesimbra, a Câmara comunista de Augusto volta a celebrar efusivamente o Dia de Reis.
3. Em Espanha, a directora de um colégio - laicismo oblige - deitou para o balde do lixo um presépio feito pelos alunos.
4. Não se sabe bem onde, o senhor Cardeal Patriarca de Lisboa veio dizer que o aborto não era uma questão religiosa.
5. Os Estados Unidos preparam-se para comercializar carne de animais clonados.
6. Na madrugada do último sábado, alguns iraquianos - os americanos, para que conste, não estiveram presentes - tornaram Saddam Hussein um homem digno.
7. A Igreja Católica passou a considerar pecado a condução em excesso de velocidade.
8. De acordo com o web site do corredor da morte do Estado do Texas, os prisioneiros a aguardar a execução dividem-se em brancos, pretos e hispânicos.
9. Em Sesimbra, no editorial do último Raio de Luz, o senhor José Pedro Guerreiro Xavier destinou às penas do Inferno todos aqueles que não abençoam o seu projecto.
Feliz ano novo!

Duas vezes

Bibliotecário amigo, profundo conhecedor de pergaminhos e papiros, guardador de relíquias e segredos, confidenciou-me que a Magna Carta foi outorgada pelo rei João Sem Terra, em Runnymed, perto de Windsor, no ano da graça de 1215.
Nela se fala de barões, condes, viscondes, bispos, arcebispos, abades, priores, templários, hospitalários, sheriffs, bailios e do Sumo Pontífice Inocêncio III.
Confesso que não é coisa que me apaixone, ciente que estou da ignorância que me leva a deitar sobre o mundo vistas curtas, olhar ingénuo e superficial. Mas interessado.
Por isso, muito embora a minha função consista em distribuir correspondência, não deixo de imaginar o que cada sobrescrito possa conter. E de, nas horas de vigília, me deitar a escrever o que me passa pela cabeça, magras missivas, pobres apontamentos, notas dispersas que, à socapa, irei colocando nesta caixa de correio que, a partir de hoje, aqui fica.
Ao contrário das outras, esta é aberta, está à disposição de todos e aceita mensagens, desde que respeitosas.
Aqui voltarei sempre que julgar trazer na mala cartas interessantes.

E toco sempre duas vezes...